Optou pelas mudanças convencionais, visitou o museu esperando que a sabedoria dos tempos antigos lhe ensinasse como viver os atuais. Não funcionou. Decidiu visitar o hospital, ver pessoas em estágio terminal. Esperava que o desespero da vida que deixa de ser vida em momento nenhum pudesse fazê-lo perceber uma alegria que para ele fazia falta. Também não deu certo. Como última alternativa, decidiu aprender com sua própria vida, visitou um psicólogo para saber o que havia de errado. Mas o psicólogo também não sabia o que dizer. André tinha um problema que não existia e a falta da excitação continuava a ser a causa.
Voltou pra casa, teve a pior das ideias. Pegou um revólver, colocou por sobre a mesa ao lado de uma garrafa de uísque meio cheia - ou meio vazia. Bebeu, pensou, bebeu, pensou, até que a coragem veio. Fechou o casaco, deu uma última olhada para os móveis, pra ver se a casa estava arrumada. "Não quero que me encontrem numa espelunca bagunçada", pensou. Pegou seu calibre 22 e o encarou por alguns segundos, resmungando algumas palavras. "Quem diria, comprei você para proteção..." e mal sabia que deveria proteger-se era de si mesmo.
Sem rodeios, colocou na cabeça e engatilhou a arma. Seu coração começou a pulsar forte, bombeando sangue para todo o corpo como uma pequena maria-fumaça. Em pouco tempo, já estava com o rosto todo suado, respiração ofegante, nervoso com a situação. Foi aí que ele percebeu algo engraçado. Estava excitado de novo. Adrenalina no auge, sentia-se até mais forte. Nada nem ninguém havia o deixado naquela posição anteriormente, se sentia renovado, talvez até justificado.
Abaixou o revólver e sorriu de felicidade. Colocou a arma sobre a mesa e disse: "- Amanhã a gente tenta de novo!" e foi dormir como a versão mais feliz do André que já havia existido.
T.Rodrigues
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