segunda-feira, 30 de julho de 2012

Os invisíveis

As pessoas vêm e vão, exercendo seu primeiro direito como cidadãos. A cidade prossegue com seu barulho, os carros passam, a corrida desenfreada a procura da nova corrida continua. A sociedade não enxerga aqueles que estão lá, deitados pelas avenidas, sujos, famintos, sedentos, clamam por pessoas que nunca os ouvirão. Permanecem invisíveis aos olhos perfeitos. Apenas ignorados, estendem as mãos em direção ao céu, pedindo por ajuda. Fazem das esquinas, casas. Das pontes, mansões. Das ruas, lares. Ninguém parece perceber o clamor dos invisíveis. Pessoas normais, gente como a gente, pedindo esmolas e se tornando inalcançáveis. Parede de muro, paisagem concreta. Julgados por nós que temos um lugar a chamar de "lar". Eles não pedem muito. Na verdade, não pedem nada. Afinal, ser visto não é um pedido. É um abrir de olhos.

T.Rodrigues


"Um centavo ou um sorriso"

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Músicas de quinta #2

Eu te Amo, Chico Buarque (Vida, 1980)


Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta como hei de partir

Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir

Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir.