terça-feira, 18 de outubro de 2011

Aqueles olhos verdes.

"Sabe, eu já não sei mais nada da semana passada, pois foi quando você chegou, que tudo começou. Começou a se confundir." (Trecho da música "Tudo Porquê" do Gabriel Elias)


Eu me lembro de acordar cedo, tomar um banho e sair. Chegar cedo no trabalho, de dar meu melhor e me dedicar sempre. Eu me lembro da forma que pegava no violão e dedilhava, dedilhava e dedilhava músicas inacabáveis de artistas variados, do inglês ao português, indo e voltando. Lembro-me de olhar no celular de cinco em cinco minutos pra procurar as ligações perdidas ou mensagens. E quando eu o abria, via o plano de fundo, e aquela atividade que normalmente demoraria 5 segundos se tornava minutos. Aqueles olhos verdes me impediam de fazer a maioria absoluta de meus afazeres diários.

Sinto saudade disso, confesso. E digo isso rindo, sinceramente. As vagas lembranças que agora correm na minha mente são um passado tão distante, que tudo que tenho na mente são boas memórias. Lembro-me do primeiro dia. Chegando na casa dela com a cara e a coragem, sendo a coragem milhões de vezes maior que o tamanho da cara. Era muito engraçado. A forma que eu cantava as músicas então, melhor ainda. Eu não conseguia terminar uma música! Era uma mania que eu tinha. O que acontecia na maioria das vezes (e isso eu descobriria muito tempo depois do fato ocorrido) era algo engraçado. Eu começava a música, procurava algo pra olhar, coisa normal... Mas eu acabava me concentrando naqueles olhos verdes, e dai vocês imaginam o resto.

Um dia desses sentei e li o livro que ganhei de presente. "Querido John". As frases grifadas me faziam arrepiar, toda vez que encontrava uma nova. Palavras como "parecia que nos conhecíamos a tempo" ou "eu sabia que queria ela desde a primeira vez que vi", tiveram um efeito em mim que nem sei descrever. A forma como o livro termina triste. Foi algo muito estranho também. Mas minha vida não é um livro. Eu só vivo uma grande história. Não minha, mas de um conjunto muito maior do que eu, o qual não posso representar, nem em música, nem em versos.

Mas esse texto não é sobre meu passado. É sobre a forma que eu me apego nas pequenas coisas. Esse é meu dilema. Às vezes, o cabelo, a roupa ou o salto alto, não me impressionam em nada. Às vezes, o que me impressiona mesmo são coisas como a música predileta, a forma como se porta em situações engraçadas e inesperadas, o timbre da voz... enfim, os pequenos detalhes. Era isso que eu amava nela (a garota que descrevi nos parágrafos anteriores).

Não era o fato de ela ser linda. Não mesmo. Não é soberba da minha parte, mas conheci várias modelos que se destacavam por ser lindas por fora e vazias por dentro. Aliás, a maioria é assim. Não pela beleza, isso não atrapalha a mulher. O reconhecimento adquirido pela beleza, e como a mulher o usa é o que tem grande peso na avaliação de seu caráter. Mas ela, sinceramente era diferente. Ela ria de coisas pequenas, desenhava respeitosamente (e sim, isso eu realmente amei quando descobri) e tinha uma facilidade enorme de fazer amigos. Nessa época, pelo que me lembro (se é que eu me lembro), ela nem gostava desse negócio de ser modelo.

Mas sabe o que mais me cativava? O olhar. Ela tinha olhos verdes, ok. Muita gente tem olhos verdes ou azuis. Mas não era a cor dos olhos. Era como, quando e a duração daquele olhar. A forma mais aproximada pra descrever seria algo do tipo "olhar nos olhos de sua mãe".

Não, eu não sou afim da minha mãe.

Imagino que é mais pelo lado "agora eu sei por que meu pai se apaixonou por ela".

Isso que fazia a diferença. A forma que eu me encontrava em encontrar aquele olhar. Aquele sentimento de segurança. Eu me lembro disso, daqueles olhos verdes. De penitência, de sabor, de respeito. Aqueles olhos verdes de encontro.

E eu fico feliz em lembrar de como eu era, o que eu era antes de conhecê-la. Alguém amargurado, que carregava a bagagem do relacionamento anterior nas costas toda vez que alguém olhava pra mim com algum interesse além de amizade. Carregava o medo.

Ela me ensinou que as pessoas não são aquilo que passaram, aquilo que vivem ou as aparências que possuem. As pessoas são aquilo que você conhece quando retira as máscaras de seus rostos. O que tem por baixo das fachadas é o que conta.

E são esses pequenos detalhes que desejo a vocês, meus amigos, que se apeguem. O os olhos verdes são apenas uma metáfora. Se apeguem nos pequenos detalhes, por são esses que valem a pena. Nas atitudes pequenas. São elas que contam, as atitudes. Esqueçam as palavras. Não ame alguém pelo número de vezes que esse alguém te diz "eu te amo". Ame esse alguém pela quantidade de vezes que o "eu te amo" é demonstrado.

Encontrem seus olhos verdes, e se cativem por eles. É o que desejo pra vocês, por que no final de tudo, quando olho pra trás, vejo que valeu a pena. Não é o modo como termina que conta, é o modo que se desenvolve. E sinceramente, não me arrependo de nada. Sinto-me grato de ter vivido momentos tão únicos, com alguém tão especial.

Aqueles olhos verdes.
Apenas encontre-os, e deixe-se cativar por eles.

T. Rodrigues

(Escute Green Eyes do Colplay e descubra que eu não sou o único a pensar assim)

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