quarta-feira, 28 de março de 2012

Vem cá me dizer o necessário

Olá, bom dia, como você está? Seu rosto me parece familiar. De repente me parece perto. Hoje eu acordei meio estranho, não me lembro bem por quê. O que te fez acordar tão cedo? A sim, claro, você tem que trabalhar. Me esqueci disso. Venho esquecendo muita coisa ultimamente. Mas você é linda sabia? E me parece tão familiar.

Os discursos pra mim parecem novos sempre. Não existe reprises... É tudo tão novo! Tudo parece igual, e tão diferente. As conversas, tão fascinantes. Você é linda sabia? Mas acho que já disse isso. Ou não... Não me lembro. Mas enfim, que falta de educação da minha parte... Bom dia pra você! De vez em quando me esqueço de cumprimentar. Desculpe por isso. Sou tão esquecido as vezes.

Me esqueço até do que preciso. Mas afinal, o que é necessário ser lembrado? O que pra você é necessário? Sua tv, seu computador, seus livros... Provavelmente você não falaria que precisa de ar. E se as pessoas não lembram nem do ar... Como podem saber o que realmente precisam... Tão triste...

Mas você é linda sabia? Algo me diz que eu preciso de você. Preciso te dizer essas coisas. Mas não me lembro bem por quê. Não te disse que era linda antes por pura falta de modos... Parece que é necessário te lembrar disso. Vale lembrar.

Mas hoje eu acordei meio confuso. O que aconteceu ontem é um emaranhado de ideias e lembranças borradas. Parece que nem existiu pra mim. Acho que bati a cabeça ontem. Nunca achei que poderia doer tanto quanto agora, e parece que a dor vai ficar. Mas acontece né? E você é tão linda! Veio pra cuidar de mim? Uma moça tão nova... E eu nem sei a quanto tempo estou aqui.

Você já olhou pra janela? Vai lá... Dá uma espiadinha. O dia está tão lindo... Não sei qual foi a última vez que o vi desse jeito. Vai lá, respire na janela. Você vai se sentir tão bem, tão livre... O ar daqui do alto é mais puro. A sensação é ótima. Venta muito por aqui. Estou aprendendo a respirar de novo.

E no fim as coisas que sei quero aprender de novo, e divido minhas ideias entre coisas que não sei e coisas que não me lembro. Mas o dia está tão lindo lá fora... Vale a pena lembrar disso! Mas afinal, o que é necessário? Hoje eu acordei tão cansado, tão confuso... Me sinto exausto. E eu nem percebo que esqueci as coisas.

Mas vem cá que eu quero te mostrar uma música. Isso, mais perto. Esse piano é tão bonito. Está escutando? Essa música é muito linda também. Eu toquei ela na festa de casamento do meu irmão. Bom, já não me lembro tão bem assim. Acho que foi essa música. Ela me lembra de um poema... Não sou capaz de recitá-lo pra você agora. Me desculpe. E você é tão linda...

Engraçado, parece que já nos conhecíamos não é? Esse seu sorriso me lembra muita coisa... Mas é meio complicado descrever sabe? Ultimamente estou tão esquecido... Espere um pouco...

A meu bem, é você não é? Me desculpe... Por quanto tempo eu estive fora dessa vez? Meu Deus, tanto assim... Eu não esqueci de você. Seu rosto estava o tempo todo na minha cabeça. Mas estava difícil te associar... E quando as memórias vem, chegam com tanta força que parece não ser real. Mas eu me lembro de você. Lembro desse seu sorriso! Não vai, não chore... Por que você está chorando? Eu amo você. Desculpe por ser tão incapaz, tão... Esquecido.

Aproveite minha lucidez, vem cá me dizer que vai ficar tudo bem... Eu preciso de você. E você não desiste de mim... Nem agora, que já está tão difícil. Eu morro devagarzinho por tudo ser assim. Não é esquecer, é me lembrar que você está gastando a vida comigo. Isso é tão triste... Mas você não desiste de mim não é? Vem cá, deixa eu te dizer que te amo de novo. Vem pra perto. Me perdoe amor.

Não chora vai... Eu disse algo errado? Não queria, me perdoa, não foi intenção. Mas afinal, o que disse mesmo? E onde estão meus modos...

Bom dia! Como você está? O dia está lindo não? Você me parece tão familiar... E é tão linda...

domingo, 25 de março de 2012

Só mais um "Tarde Demais"

E a gente fica perdendo tempo, na janela da vida, assistindo ela passar. Enquanto poderíamos estar lá fora brincando na varanda, nos divertindo e vendo que a felicidade vale a pena.

E eu imagino a história. Em algum lugar, existe um pai que trabalha de mais e um filho dentro de casa esperando. O pai trabalha pra dar sustento, pra colocar comida na mesa. E o filho, bom, o filho brinca. Se diverte fazendo coisas de menino, e uma das coisas que menino mais faz é não concordar com as coisas.

Um dia o pai deixa o menino na escola e vai trabalhar. Um dia normal, corriqueiro, pro pai. Pro menino era um dia diferente, ele acordou sentindo algo diferente, queria contar pro pai mais não teve tempo. Não pôde perguntar mais cedo o que estava acontecendo com ele, era estranho.

Mas o mundo gira, e gira, e de vez em quando acontecem coisas inesperadas.

O menino estudava numa escola chamada Santa Rita. A escola ficava num lugar pacato da cidade, perigoso, mas era perto de onde o pai trabalhava, e era fácil o acesso.

A aula acabou mais cedo e o menino quis passar no trabalho do pai pra poder ir embora junto. E então chegou na empresa dele e mandou chamá-lo. O pai, dizendo que não tinha tempo, e recriminando a ação do filho, ordenou que voltasse pra casa de ônibus.

E, não entraremos no mérito de como, pra não descrevermos demais, mas nesse dia, ouve um acidente de ônibus. E o menino estava nele.

E o pai caiu na maré de arrependimentos, quando foi visitar o filho no hospital, disse que foi um tolo e que devia ter esperado, coisas que a gente faria numa situação dessas. Mas o acidente em si não foi o pior, o acidente levou ao diagnóstico de leucemia, um quadro já avançado, do menino.

Conversando mais tarde, os dois a sós, o pai perguntou com lágrimas nos olhos pro filho na cama se era isso que ele sentira de diferente naquela manhã, o que não deu tempo de perguntar. Quando foi responder, o menino disse "Não pai, é que hoje eu acordei com saudade de você."


T.Rodrigues

sexta-feira, 23 de março de 2012

23 de Janeiro. (Carta)


Naquele dia, lembro-me de ter acordado e passado o dia na casa do meu primo. Conversando com ele sobre coisas inúteis e pensando na vida a partir dali. Coisas de primo. E quando a tarde chegou, a fome bateu, decidi ir pra casa. Quando cheguei em casa, lembro-me também de ler trechos de um bom livro, na época era o Morro dos Ventos Uivantes, e me cativar com a história. No facebook havia atualizações que não tinha lido, e coisas que não tinha respondido, uma delas sobre a festa, nessa mesma segunda.

Eu já queria ir, estava esperando meu pai chegar pra falar com ele. Ele demorou um pouco mais do que o previsto, o que quase me desanimou. Caso isso acontecesse ia ligar pra minha querida aniversariante, e desejar o melhor pra ela, mas seria complicado ir lá. Acabou que meu pai chegou e decidi ir.

No ônibus, a caminho do Outback, fui ouvindo música. Cheguei lá com o fone ligado ainda, um dos primeiros a chegar, mesmo estando atrasado meia hora. Naquele dia ouvia no celular Newton Faulkner, músicas que falava sobre coisas inesperadas em lugares inesperados, acontecimentos inusitados em horas indeterminadas. Basicamente? A vida.

Sem romantismo: Quando eu te vi, não sabia o que dizer.

Um círculo de amigos inusitado, uma aniversariante da qual a saudade era grande, uma vontade louca de sentar numa roda e por o papo em dia, o que acabou nem acontecendo... Você mudou o curso daquele dia. E o curso dos meus dois últimos meses.

O efeito que você provocou na minha vida, não posso descrever. Dia 23 de janeiro, às 22h aproximadamente, numa segunda feira qualquer, Deus tentou me avisar que a felicidade pra mim estava perto, eu só precisava olhar a vida com mais atenção.

E as circunstâncias nos trouxeram até aqui, e fico feliz por isso, mas acho que o que mais me define seria "grato". Eu tenho meio jeito específico de assistir a vida acontecer, um jeito que as vezes me atrapalha, mas eu fico pensando... Se naquela segunda feira, eu não tivesse ido. Como estaria minha vida agora. Como eu seria.

Quando comecei a pensar nisso, percebi o quanto você me mudou. Pra melhor. Desde o dia que te conheci, percebi várias coisas novas, e algumas já sabia, mas o tempo tinha me feito mudar de ideia. Percebi que o que a gente quer, não vem fácil. Que quando se gosta a gente tem que brigar por aquilo. Que nem sempre a vida espera você na varanda com um "seja bem vindo", pelo contrário. As vezes ela diz pra gente "se acomodar é mais fácil, volte pra casa."

E no fim de tudo, eu me arrisquei. Quis ser o melhor que podia, primeiro por mim, e depois por você. Obrigado por ser pra mim algo tão além do que posso descrever em texto. Algo além do que posso dizer em palavras, mas algo que não chega perto do que meu coração sabe expressar.

A verdade é que dia 23 de janeiro mudou meu rumo. Dia 23 de fevereiro foi um dos melhores dias que me lembro ter. E hoje, 23 de março, estou aqui escrevendo pra você que se depender de mim flor, todo dia pra mim vai ser um 23.

Obrigado por ser isso tudo, e um pouco mais.

terça-feira, 20 de março de 2012

O que é?

Pra menina na beira do rio era o vento,
Pro pai de família, era a esposa.
Para o viajante era a independência,
Pro cachorro, o rabo.

Para o violeiro era a música
Pro poeta a musa
Pro velho, a bengala.
Para a abelha era o mel,
Pra criança era o brinquedo
Pro melancólico era o passado
Para o suicida, era a vida.

Pra mim,
Nenhum deles sabia se era amor
Ou se era felicidade
Mas todos sabiam que estava lá.

T.Rodrigues

quinta-feira, 15 de março de 2012

Reflexo

Penso que sinto e sei o que penso,
Numa redoma guardei olhares.
Não é fácil entender o recado
O espelho é complicado de mais
Finjo que vejo, vejo que finjo
E nada além de interrogações barbadas
O olhar cansado diz mais da alma,
A alma cansada reflete no olhar.
A boca seca relata a falta,
A falta que faz seca a boca.
O tempo que passa envelhece a pele,
A pele que envelhece enruga.
A marca que fica traz a experiência,
A experiência que fica me confunde no espelho.

T.Rodrigues

terça-feira, 13 de março de 2012

Do mar dá dó de amar

Do mar dá dó de amar
Encontrei a terra a quem me comprou
Comprou com prosa, bossa nova
Grama verde, tesouro e frescor

Se no céu se é sentido
Sente a lua, afunda o grito
Paga o preço do descaso
Me padeço e compareço
Sinto o frio do infinito

Avante a estibordo
Contra vento inventado
Maresia que sinto é cina
É cheiro de sal contrariado

A cor da corda acorda
Acorda o menino da proa
Vai gritar pro grilo da praia
Que a terra já avistou!

T.Rodrigues

sexta-feira, 9 de março de 2012

Sinônimo do Contrário (Poema)

De que valeria o cansaço sem a rede
a canção sem a viola
a vida sem a morte
a luta sem vitória?

O que seria do ânimo sem o desespero
do carinho sem o beijo
do cobrador sem passageiro
da criança sem o berço?

Pra onde iria o sentido sem as palavras
o celular sem as chamadas
o conto sem as fadas
a santinha sem a malvada?

Por que penso que sei o contrário
do que escrevo e do que falo
E assino esse contrato
De fingir ser poeta imaginário?

T.Rodrigues

quinta-feira, 1 de março de 2012

Carta ao Tempo (Poema)

Vou escrever uma carta ao tempo...
Pra poder ganhar mais tempo.
Pra poder curtir a brisa da tarde
Ou uma manhã qualquer de momento.

Vou escrever uma carta ao tempo...
Ingrato! Teimoso! Sereno...
Que nervoso me deixa quando manda esse vento
Suspirar no meu ouvido que tenho pouco tempo.

Vou escrever uma carta ao tempo...
Pra não perder nenhum segundo.
Desse que me rouba a vida, o alento
Tenho ciúmes, inveja, me iludo.

Vou escrever uma carta ao tempo...
Vou sim, com certeza!
Pra ele comunicar ao patrão
Que de vida, ainda nem cheguei na sobremesa!

Vou escrever uma carta ao tempo...
E depois volto pra te contar.
Que de todos os olhares que já vi na vida
No seu eu pude me encontrar.

T. Rodrigues.