quinta-feira, 19 de maio de 2011

Na Pista da Vida

O namoro é algo que a gente demora pra tomar coragem de começar, e mais tempo ainda pra achar coragem de terminar. Mas o término dele é algo que deixa marcas. Obviamente a gente não mede amor com tempo, tempo de namoro, tempo de casado, tempo de solteiro. Não é assim que a banda toca. Mas todo mundo que já teve um relacionamento que demorou um pouco mais, alguns anos talvez, sabe como é difícil passar de um status civil para outro.

Luiza era uma pessoa que amava seu namorado. Nos últimos três anos ela tinha dedicado suas carícias, seu estoque de amor, suas peripécias todas pra uma pessoa só. É assim que ela sabia demonstrar seu carinho, ela se dava demais. Mas de uns três meses pra cá ela não sabia muito bem como poderia conciliar seu tempo entre trabalho, estudo, e seu namorado. Mas ela o amava de verdade. Foi quando ela descobriu que tinha que terminar o namoro e se dedicar mais para sua vida pessoal, coisa que ela não fazia há tempos.

O problema é que em idéia é muito fácil. Você chama pra conversa. Explica à situação, ele apavora. Você diz “sente-se, é apenas uma conversa”. Ele ri educadamente, você devolve o sorriso e imagina “eu podia estar em outro lugar”. Apesar das dificuldades do processo, Luiza pensou que poderia lidar com isso. Ela poderia ter uma conversa digna de fim de namoro, e manter sua sensatez.

Mas como diria Joseph Climber, “a vida, é uma caixinha de surpresas.”

Ligou, marcou a conversa, tomou um banho e saiu. Chegou ao local marcado. Ele também. Começaram a conversar. Os sorrisos vieram ao rosto, e quando ela se preparou para dizer “é por isso que eu acho melhor a gente terminar”... ele disse primeiro.

Ele disse todas as palavras que ela tinha preparado para dizer. Disse que não tinha tempo, e que tinha que se concentrar mais em sua vida pessoal. Disse que a amava demais para continuar levando a situação do jeito que estava. Todas aquelas coisinhas. Cada pequeno detalhe na cabeça dela evaporou que nem brigadeiro em festa de criança. Luiza se sentiu desarmada. De repente nada daquilo parecia fazer sentido, de repente ela nem sabia o porquê de ter ido lá. Foi um branco de tal forma, que ela nem queria mais romper com ele. Começou o chororô, abriu o berreiro, e falou coisa que não devia.

A volta pra casa foi duvidosa. Luiza não sabia se ria, se chorava, se ficava feliz, se ficava triste, não sabia de mais nada. Eu particularmente nunca vi ninguém chorar tanto por alguém que não o quis.

Quando ela viu o telefone no gancho, pensou em ligar pra alguém. As duas primeiras amigas não atendiam ao telefone. Ela tinha um gato, mas ele não era muito de papo. Pegou o celular e deu uma olhada na agenda de novo. Viu meu número lá e arriscou a conversa.

Quando a gente vê um número de alguém que não liga a anos pra você na tela do celular, você atende como quem não acredita no que está acontecendo. Em noventa por cento desses casos a pessoa do outro lado está te cobrando algum dinheiro ou pedindo algum favor. Não era o caso.

A gente conversou como velhos amigos conversariam coisa normal. Mas você sabe quando está conversando com alguém que quer te dizer mais do que “oi”, “olá” ou “como vai à vida na penitenciária?”.

Ela me contou tudo que escrevi pra vocês, me falou do branco na cabeça e do brigadeiro em festa de criança. A história até aqui não interessa muito, o que interessa foram os conselhos que consegui naquele dia. Falei pra ela pra deixar aquilo pra lá, que ela não podia é ficar daquele jeito. Falei pra ela por um fim nisso tudo.

Se ela fizesse isso, ele ia voltar, louco pra vê-la, e então teria uma surpresa. Ela nessas horas já teria crescido, já teria se encontrado mais e ocupado um lugar a mais. Seria uma Luiza diferente.

Eu, sinceramente, quero mais é ver ela na pista da vida, dançando sem parar.

Com o tempo, é claro, ele percebeu o erro que tinha cometido e começou a correr atrás. Mas ai já era tarde demais. Não posso julgar sobre a decisão dela. Mas o que posso dizer é que hoje ela está feliz com as decisões que tomou, e sabe muito bem das próximas que tem de tomar. É dona de si.

O legal foi vê-la seguindo o conselho. Vê-la assim, com um ar de quem superou, dá uma satisfação única, pra lá de gratificante.

O ruim da história é saber que eu, que dei o conselho, não sei fazer igual.


Texto baseado na música “Deixe Estar” da banda paulista Cinco a Seco.

6 comentários:

  1. Depois dizem que mulher é complicada e ficamos bravas.
    Não era isso que ela queria? Superar o que, então? A "bica"???
    Ela queria era dar o fora, não levar...
    Não sabe como teve sorte. É muito ruim magoar. É infinitamente pior do que ser magoado. Pelo menos pra quem tem o mínimo de compaixão.
    Fictícia ou não, essa Luiza me irritou um pouco.
    Mas o texto é bom, parabéns!
    Vou dar uma olhadinha pelo espaço.
    Bjk

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  2. Muito obrigado! E sim, é um fake. Uma história que inventei em cima da música. Leia mais do blog! Talvez goste.
    Beijos.

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  3. Caro autor,
    Em primeiro lugar o texto precisa ser melhor trabalhado com relação às expressões utilizadas, já que em alguns casos são extremamente populares para a forma como você quer escrever.
    Em segundo lugar, tratando agora da essência do texto, talvez não tenha sido a sua intenção,mas o que mais me chamou a atenção foi o sofrimento passado pela "voz" que narra a estória. Ela sofre por um grande amor mas não tem coragem de esquecer. Porém o que me pareceu mais assustador, é essa voz não ir atrás e lutar por esse mesmo amor. Ao findar a leitura, é como se faltasse algo que incomodasse o leitor a tal ponto, de fazê-lo imaginar possíveis desfechos.
    Talvez nada disso, tenha sido seu intuito ao escrever esse texto, mas foram observações que me surgiram e acredito que você entenderá tudo como sugestões e não críticas. De qualquer maneira, seu texto é bom. Parabéns!

    Aguardo uma "ação" da voz narradora, para que assim você possa publicar a continuação dessa estória.

    Atenciosamente,
    O Leitor.

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  4. Muito obrigado pelo comentário tão sensato, fico feliz em ser botado a prova de forma tão perspicaz. A questão é: Algumas das expressões que coloquei de forma coloquial, foram uma estratégia que usei para que o texto em si não ficasse tão triste quanto parecia, tanto do lado do narrador, quanto do personagem da história. Foi uma forma de distrair o leitor do significado real do texto.
    Apesar de também ter gostado muito da forma que você observou o narrador da história, vi também que ouve um equívoco nas idéias. Quem cria coragem pra esquecer, não luta pelo mesmo amor, esse é o ponto.
    Eu, que realmente sou o narrador da história, coloquei algo pessoal no texto e também quero um desfecho para essa história. Mas o amor em questão não está me dando muita abertura pra que o texto tenha seu desfecho. Mas eu continuo acreditando que essas desventuras vão terminar em sorrisos.
    Muito obrigado mesmo pelo comentário tão observador.

    Com carinho,
    o autor.

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  5. Caro autor,

    Não ouve equívoco algum, já que você, o qual assumiu ser a "voz" do texto, ainda não criou coragem para esquecer. É o que fica claro, quando diz :"O ruim da história é saber que eu, que dei o conselho, não sei fazer igual". Daí o fato de eu ter julgado assustador (utilizando o mesmo termo do comentário anterior) o narrador (leia-se agora o próprio autor) não buscar esse grande amor.
    Porém, como diz o poeta, "Cada um de nós compõe a sua história". Além disso, o intuito maior foi ajudá-lo na criação de seus textos.

    Findo aqui meus comentários sobre "Na pista da vida".

    Desejo sucesso.

    O Leitor.

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  6. O texto é lindo, apesar de ser 2011, hoje exatamente agora, me sinto a Luíza. Posso entender o que ela sente. Tenho certeza que está com o coração arrebentado , ela deve estar como eu, presa a sentimentos tão intensos que não consegue expressar.

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