sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Conversa de Botas Batidas

- E agora amor, o que acontece? - Ele pergunta pra ela.
- Acontece que agora a gente está livre.
- Livre de quê? O moço bateu na porta duas vezes Maria. Está na hora de ir. 
- Mas eu prefiro ficar.
- Prefere? Está louca?
- Tá na hora de ser feliz. De parar de se esconder Ruy.
- Feliz como, eu não vejo onde. Ficar aqui é esquecer tudo. É entregar tudo pro acaso.
- Pelo contrário! Cansei de fingir, cansei de me esconder! Não quero mais um minuto que seja, longe de você. Você é tudo pra mim, e se eu passar dessa porta eu te perco de novo. Cansei de repetir essa fuga sempre! De não te ter ao lado sempre! Não quero mais isso. Eu quero ficar.
- Mas se a gente ficar...
(Interrompendo, Maria continua) - Eu sei! Mas eu não me importo.
           
           Ruy pára pra pensar um pouco, tentar entender. Ele escuta o barulho das pessoas correndo do lado de fora. Tenta raciocinar um pouco, pensando na situação e tudo mais. Ele olha pra fora e vê a rua cheia, os carros passando, a vida continuando da mesma forma de antes. Então ele olha pra cama e vê Maria deitada.
           Mesmo com todas as informações correndo em seu cérebro como maratonistas, ele vê que ela era tudo o que precisava. Observou seus contornos. Sua boca e seu cabelo liso. Ele viu que se existisse um porto seguro, era ela.

- Acho que cansei da nossa fuga. - sussurra Ruy, por fim falando algo.
- Vem, volta pra cama, que nossa hora chegou!
- Mas eu estou com medo.
- A vida é passageira! E a gente se pertence. Esse é só o começo do fim da nossa vida.
- Eu sei, eu sei. Então é melhor eu voltar pra cama.
- É, vem e me abraça! Que eu quero te curtir uma vez mais.

           E os primeiros barulhos começam. Os primeiros tremores. E o silêncio no corredor.

- Maria, tá acordada?
- Sim, por que?
- Por que eu queria falar que te amo. De novo.
- Eu também te amo! Eu acho que a hora tá chegando.
           
           Com lágrimas nos olhos, os dois se abraçam uma última vez. E então o hotel cede acima deles.

           Algumas horas antes desse diálogo, esse acidente foi previsto por um dos funcionários do hotel, que foi avisando para todos os hóspedes assim que imaginou o pior. E assim começaram a evacuar o lugar. Pessoas correndo pra todos os lados, mesmo organizadas, tentavam sair daquele hotel no Rio as pressas. Quando todos se reuniram na porta do hotel, observando do lado de fora, pensaram que um milagre aconteceu. Que o pior tinha passado. Mas no fim das contas, foram encontradas duas vítimas fatais, encontrados abraçados num dos quartos do hotel.

           Ruy (71 anos) e Maria (62 anos) eram um casal de idosos que, supostamente, viviam um amor proibido. Eles eram casados, mas com pessoas diferentes. Tinham filhos, netos... famílias completas. Mas viviam um amor às escondidas há meses, quem sabe anos. Sempre iam no mesmo hotel, para fugir de tudo.

Escombros do Hotel Linda do Rosário - Rio de Janeiro
           A história é uma história real. Esse texto é apenas o que imaginei do diálogo que eles tiveram antes do acontecido. O fato de um tentar convencer o outro a ficar no hotel, enquanto tudo desmoronava... Era demais pra imaginar. Histórias e mais histórias de amor são contadas, em filmes, músicas e livros. As vividas, as que são reais mesmo, a gente só imagina, ou presencia.

           Essa história também foi imaginada, em forma de música, pelo cantor e compositor Marcelo Camelo, do Los Hermanos. Música qual deu o nome para esse texto.

           Se há algo você tirar desse texto, vai de você leitor. Eu só penso que, se um dia encontrar um amor que seja tão intransponível como o deles, serei um cara feliz.

           E assim finalizo o último post do ano: Seja feliz.

T. Rodrigues.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Aqueles olhos verdes.

"Sabe, eu já não sei mais nada da semana passada, pois foi quando você chegou, que tudo começou. Começou a se confundir." (Trecho da música "Tudo Porquê" do Gabriel Elias)


Eu me lembro de acordar cedo, tomar um banho e sair. Chegar cedo no trabalho, de dar meu melhor e me dedicar sempre. Eu me lembro da forma que pegava no violão e dedilhava, dedilhava e dedilhava músicas inacabáveis de artistas variados, do inglês ao português, indo e voltando. Lembro-me de olhar no celular de cinco em cinco minutos pra procurar as ligações perdidas ou mensagens. E quando eu o abria, via o plano de fundo, e aquela atividade que normalmente demoraria 5 segundos se tornava minutos. Aqueles olhos verdes me impediam de fazer a maioria absoluta de meus afazeres diários.

Sinto saudade disso, confesso. E digo isso rindo, sinceramente. As vagas lembranças que agora correm na minha mente são um passado tão distante, que tudo que tenho na mente são boas memórias. Lembro-me do primeiro dia. Chegando na casa dela com a cara e a coragem, sendo a coragem milhões de vezes maior que o tamanho da cara. Era muito engraçado. A forma que eu cantava as músicas então, melhor ainda. Eu não conseguia terminar uma música! Era uma mania que eu tinha. O que acontecia na maioria das vezes (e isso eu descobriria muito tempo depois do fato ocorrido) era algo engraçado. Eu começava a música, procurava algo pra olhar, coisa normal... Mas eu acabava me concentrando naqueles olhos verdes, e dai vocês imaginam o resto.

Um dia desses sentei e li o livro que ganhei de presente. "Querido John". As frases grifadas me faziam arrepiar, toda vez que encontrava uma nova. Palavras como "parecia que nos conhecíamos a tempo" ou "eu sabia que queria ela desde a primeira vez que vi", tiveram um efeito em mim que nem sei descrever. A forma como o livro termina triste. Foi algo muito estranho também. Mas minha vida não é um livro. Eu só vivo uma grande história. Não minha, mas de um conjunto muito maior do que eu, o qual não posso representar, nem em música, nem em versos.

Mas esse texto não é sobre meu passado. É sobre a forma que eu me apego nas pequenas coisas. Esse é meu dilema. Às vezes, o cabelo, a roupa ou o salto alto, não me impressionam em nada. Às vezes, o que me impressiona mesmo são coisas como a música predileta, a forma como se porta em situações engraçadas e inesperadas, o timbre da voz... enfim, os pequenos detalhes. Era isso que eu amava nela (a garota que descrevi nos parágrafos anteriores).

Não era o fato de ela ser linda. Não mesmo. Não é soberba da minha parte, mas conheci várias modelos que se destacavam por ser lindas por fora e vazias por dentro. Aliás, a maioria é assim. Não pela beleza, isso não atrapalha a mulher. O reconhecimento adquirido pela beleza, e como a mulher o usa é o que tem grande peso na avaliação de seu caráter. Mas ela, sinceramente era diferente. Ela ria de coisas pequenas, desenhava respeitosamente (e sim, isso eu realmente amei quando descobri) e tinha uma facilidade enorme de fazer amigos. Nessa época, pelo que me lembro (se é que eu me lembro), ela nem gostava desse negócio de ser modelo.

Mas sabe o que mais me cativava? O olhar. Ela tinha olhos verdes, ok. Muita gente tem olhos verdes ou azuis. Mas não era a cor dos olhos. Era como, quando e a duração daquele olhar. A forma mais aproximada pra descrever seria algo do tipo "olhar nos olhos de sua mãe".

Não, eu não sou afim da minha mãe.

Imagino que é mais pelo lado "agora eu sei por que meu pai se apaixonou por ela".

Isso que fazia a diferença. A forma que eu me encontrava em encontrar aquele olhar. Aquele sentimento de segurança. Eu me lembro disso, daqueles olhos verdes. De penitência, de sabor, de respeito. Aqueles olhos verdes de encontro.

E eu fico feliz em lembrar de como eu era, o que eu era antes de conhecê-la. Alguém amargurado, que carregava a bagagem do relacionamento anterior nas costas toda vez que alguém olhava pra mim com algum interesse além de amizade. Carregava o medo.

Ela me ensinou que as pessoas não são aquilo que passaram, aquilo que vivem ou as aparências que possuem. As pessoas são aquilo que você conhece quando retira as máscaras de seus rostos. O que tem por baixo das fachadas é o que conta.

E são esses pequenos detalhes que desejo a vocês, meus amigos, que se apeguem. O os olhos verdes são apenas uma metáfora. Se apeguem nos pequenos detalhes, por são esses que valem a pena. Nas atitudes pequenas. São elas que contam, as atitudes. Esqueçam as palavras. Não ame alguém pelo número de vezes que esse alguém te diz "eu te amo". Ame esse alguém pela quantidade de vezes que o "eu te amo" é demonstrado.

Encontrem seus olhos verdes, e se cativem por eles. É o que desejo pra vocês, por que no final de tudo, quando olho pra trás, vejo que valeu a pena. Não é o modo como termina que conta, é o modo que se desenvolve. E sinceramente, não me arrependo de nada. Sinto-me grato de ter vivido momentos tão únicos, com alguém tão especial.

Aqueles olhos verdes.
Apenas encontre-os, e deixe-se cativar por eles.

T. Rodrigues

(Escute Green Eyes do Colplay e descubra que eu não sou o único a pensar assim)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Comportamento Humano

Uma observação recente que fiz do comportamento humano me levou a essa tese: O homem é movido por seus desejos.

Sim. Eu digo, todos os homens são movidos, digo mais, são liderados, argumentados, manuseados e encaminhados por seus desejos. Todos os homens são assim. Do mais pobre, ao mais rico, do negro ao branco, do burguês ao republicano, etc. Pense comigo, as pessoas nascem livres. Do momento da saída do útero da mãe, o homem nasce livre. Portanto, a única coisa que podemos definir como acoplada em seu caráter e suas escolhas posteriores é o instinto. É a necessidade de cessar ou satisfazer a necessidades básicas que também são trazidas de útero para essa nova forma de vida. A fome, a sede, o sono e a dor.

Concluímos então que, basicamente isso acontece: Todos os preceitos, todas as racionalidades, as atitudes que se encaixam no "padrão" que é levado pela sociedade, a alimentação, as roupas e vestimentas, a fala, a "educação", o convívio nesse novo habitat (e outros inúmeros exemplos que posso dar a respeito do que adquirimos em relação a convivência) é dado a partir das outras pessoas. De seus pais, do meio, da localização geográfica, entre outras coisas.

Então, partindo desse pressuposto, resumi que a vida que você leva, nada mais é do que a busca pela realização de seus desejos e vontades, de se tornar igual aos outros, ou de se encaixar num "padrão".

Sim meus amigos, a afirmação que fiz é absurda tanto quanto parece. Parece loucura, mas não é.

Suas responsabilidades, sua conduta, sua forma de viver em busca do dinheiro para sustentar você e sua família, sua cobiça e sua compra desregulada de produtos que você não precisa, pra suprir necessidades que você não tem. Um homem, por mais pobre que seja, que acorda e trabalha catando lixo na rua, que tem de dar comida a filhos que fez, nada mais faz do que tentar suprir o desejo de ser o cabeça de uma família, mas, partindo do pressuposto do nascimento sem bordas, de uma pessoa livre, ele não tem essa obrigação, ele o faz por que deseja.

Parece absurdo, mas não é. A seleção natural é prova de que, na maioria das formas de vidas conhecidas nesse planeta, tiramos "n" espécies que, assim que se reproduzem, abandonam sua cria ou filhote (enfim) para que ele mesmo saiba como sobreviver, a aprenda a melhor forma para fazer isso. Os mais fortes sobrevivem, esse é o princípio da seleção natural.

O que quero dizer é que, a tirar como base o instinto das pessoas, e como as sociedades são formadas (de uma forma tão unicamente e absurdamente diferente das outras espécies) somos frutos de desejos das próprias pessoas, não em dar continuidade a sua raça, mas sim, a satisfazer seus próprios desejos e responsabilidades adquiridas ao longo de um processo chamado Desenvolvimento do Caráter.

Pense comigo como seríamos se não fossem empregados em você valores morais de conduta e pensamento subjetivo, de vulgaridades, rivalidades, de corridas por dinheiro, vaidade e busca excessiva por driblar o tempo, tentando manter a estética pelo passar das décadas. Como seriam as pessoas desse mundo?

Espero que todos tenham entendido. Não sei me explicar da maneira que penso.
Enfim, espero que gostem!

domingo, 21 de agosto de 2011

Noites de Domingo

Estava aqui me perguntando como existem alguns momentos únicos. Sabe quando você está andando na rua, e passa do lado de alguém? Qualquer pessoa que você nunca viu. Vocês já pararam pra pensar que talvez, ali, quando você cruza o caminho da pessoa, talvez, você nunca mais verá essa pessoa? Essas coisas que deixam os momentos únicos, me fazem viajar em pensamentos.

Quando você passa do lado de uma mãe, com um bebê no colo. Faz uma gracinha pra ele, e vê ele sorrindo, com aquela carinha angelical. Talvez você nunca mais veja aquela carinha linda. É a singularidade desse momento que entra em conflito pra mim. Talvez, daqui dez anos, você veja aquele bebê de novo, na rua, mas ele vai estar grande, então provavelmente você não o reconhecerá. Daí me faz pensar, talvez as crianças de dez anos que vejo na rua são bebês que vi a dez anos atrás em alguma outra rua.

Esses momentos são exclusivos. O que me faz pensar também, em como deixamos alguns momentos, não tão únicos, passarem de forma corriqueira. A forma que levamos a semana por exemplo. Vivemos na segunda, sempre esperando que a sexta chegue logo, e esse intervalo de tempo, nada mais é do que um sacrifício que pensamos fazer para que tenhamos o final de semana. Olha que coisa triste! É deprimente pensar que vivemos apenas dois, ou três dias de uma semana de sete. Pensamos que estamos estagnados no tempo, e ele quase nunca está a nosso favor.

"Olhe para as estrelas, perceba como elas brilham pra você." Sinta o cheiro do vento, veja como ele é puro pra você. Perceba as pessoas que te amam, pois a singularidade no amor delas pode ser, não só prazerosa, como recíproca. Olhe pra si mesmo no espelho. Perceba que, além da imagem que você vê, existem seus olhos que, até então, pode enxergar isso. Bata palmas, sinta o som entrar por seus ouvidos. Escute uma boa música, veja como a música muda o dia de alguém, acredite na música.

Pegue um papel em branco. Um lápis. Comece a escrever algo que você não pensou antes. Deixe o papel riscar o grafite, e assista o que vai acontecer. Veja como o céu brilha, pra você, e escreva sobre isso, por exemplo.
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Aproveite as segundas, as terças, as quartas, as quintas. Aproveite os momentos que passam pra você, por que eles só acontecem uma vez. Seja feliz!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Rosas Prateadas, Quartos Trancados e Geografia.



Numa tarde pensando nas ondas que batiam em você, escrevi uma canção. Cafona? Talvez. Mas o frio assolava meu corpo e minha mente fervia em idéias. Em pensamentos. Em imaginação. Em liberdade.

Pensei que em ruas e avenidas, em cidades, bairros e principalmente em vilas. Mas elas não queriam saber disso. Na verdade elas não estavam nem um pouco interessadas em minhas posições geográficas. Mas eu lia a poesia do meu coração, intermitente, piscando e voltando a tona. Um sentimento que não oscilava.

Nunca fui bom em falar do meu amor. Sempre fui bom em falar do amor dos outros. Mas poucos versos não descrevem uma história tão grande, ao menos pra mim. Como li hoje, aquelas três palavras, que matam dois corações, são ditas de boca pra fora todos os dias por milhões de pessoas que realmente não querem dizer isso. A questão é que amor é algo que não finda. Não acaba. Tudo suporta, tudo crê, tudo espera.

Vesti minhas melhores idéias. Coloquei na mochila uma porção de coragem e uns livros sobre abordagem. Não adiantaram de nada. Daí pensei, rosas. Algo que as pessoas não procuram hoje em dia. Algo que não se usa presentear mais desde algumas décadas. Achei sensacional. Escolhi com carinho, apesar de não ser muito bom em escolhas. Coloquei perdão nas rosas, e nas margaridas coloquei afeto. Encapei numa embalagem cheia de trabalho e envolvi num laço de desculpas.

O laço que foi o erro.

Dei laços por compor músicas de amor de mais, por escrever histórias de mais, por pensar de mais. Dei laços por ligações não atendidas, por mensagens não respondidas e por cartas rejeitadas. Dei laços por sonhos mal sonhados, por frases inacabadas e por tempos de glória em atos.

Dei laços nessa história e resolvi pensar de novo.

Me vesti de coragem e liguei novamente. Naquele barulho intermitente você não atendeu. Me acolhi no violão de repente,  e outra história completamente diferente apareceu. Deu vontade de gargalhar. Tá virando poesia.

Minha mãe disse, sai desse quarto, sai dessa vida. Eu vi que a vida que ela falava era a do meu quarto. Filosofei de mais. Percebi que na minha vida real eu não saio do quarto. O quarto é o coração. Eu me acostumei a trancar a porta. Escrevi sobre trancas minha vida inteira, e quando comecei a deixar a porta aberta começou a dar errado. Que universo paralelo injusto, certo?

Voltei pra sala de estar. Deixei a porta do quarto aberta. Afinal, seria um hipócrita dizer agora que "a porta está fechada e não tem volta", ou então dizer "nunca tinha aberto de verdade". Isso é pura hipocrisia dos que não encaixam na poesia dos românticos de Vander Lee.

Pensei que isso era uma carta, não é. Não se endereça cartas à praças. Em praças não existem cometas. Mas não foi ilusão. Ela ainda está lá. Digamos que ela só prefere coisas diferentes agora. Mas ainda é a mesma linda, inteligente, simpática, de bom coração e beleza estonteante que conheci numa esquina de acidente. Acidente de carro.

Me desafiei a acreditar que isso não era coisa que as pessoas dizem todos os dias. Eu poderia fazer muito mais se ela estivesse aqui. Não vou pedir desculpas de novo, minha parte eu já fiz. E por mais estranho que pareça, eu não vou mudar. Vou continuar sendo esse sonhador, esse musicista medíocre que escreve com o coração, esse aspirante a escritor de blog parado, esse cara que acha que a vida pode ser muito mais bonita do que a que o jornal diz. Tem tanta coisa que eu queria dizer. E na maioria das vezes, tem a ver.

Só sei que aqui, tem coisa que ainda não acabou. Acabou?

Canção e Mudança

Eu sou a mesma pessoa a dois anos. Mas as coisas mudam, com ou (na maioria absurda dos casos) sem o nosso consentimento. Os anos passam, as estações se vão. Alguns amigos ficam, outros somem, mas, a coisa que mais percebo hoje é que as pessoas mudam. Esse é o problema.

Quando comecei a escrever esse livro pensei: Tenho um lugar para pensar e devanear, algo para fugir da rotina. Acabou que não foi esse o resultado da Canção da Mudança. Em alguns momentos, esse livro que fazia da ficção meu aeroporto de idéias, foi algo distante de mim e obsoleto. Em alguns outros momentos, esses quais sinto como maioria, a Canção se tornou um esconderijo. Uma realidade alternativa.

A dois anos era alguém que se formava no ensino médio. Não sabia ao certo o que fazer da vida (e sinto que as pessoas mais legais também não sabem), estava numa fase fixa da minha vida. Cheio de amigos, e principalmente, estável. Obviamente coisas que eu não sabia, afinal, ainda não aprimorei meus dons de vidente senior, aconteceriam naquele final de 2009, que tanto me recordo. Como um cometa que passou em dezembro (dispenso marcas registradas na utilização desse termo, fanáticos em OTH). Foi o momento em que resolvi me dedicar mais preferencialmente a Canção da Mudança.

Esses anos se passaram e vejo hoje que realmente, muita coisa mudou. Não só as coisas que achava serem relativas, como meus estudos, meu trabalho e minhas ambições. Mas o que mais mudou foram as pessoas. Mudaram de casa, de namorados e namoradas, de gostos musicais e cores favoritas, e principalmente, de amizades. Essas coisas eu não poderia prever.

Me sinto realizado em partes. Nesse tão falado ano, tinha alguns sonhos e metas nos bolsos, notas de músicas que compunha e trechos da Canção da Mudança. Muito papel de rascunho e pouca cola psicológica pra juntar esses pedaços e transformá-los em algo que prestasse.

Mas hoje sinto como se voasse alto. Tenho motivos para agradecer a Deus as coisas que Ele me deu de bandeja. Depois de anos tocando por puro prazer, vou à estúdio ainda esse ano. Tenho recebido emails de pessoas que acompanham esse blog, perguntam sobre o livro, e uns até se interessaram em publicar algumas das histórias postadas aqui alguns jornais e blogs ramificados deste.

As vezes penso: "Será que não levei isso a sério de mais?" Digo, olhe o que me tornei. Alguém viciado em música, que compõe e escreve as avulsas. Leio sempre que posso e as vezes, até de mais. Não sei se sou o melhor que posso ser, pra falar verdade, acho que não sou melhor que ninguém. Mas não faltou força de vontade pra tentar ser esse alguém.

O que sinto vontade de dizer agora é: Muito obrigado a vocês, que passaram esses anos comigo. Aos que participaram efetivamente das mudanças e canções da minha vida, e os que não fizeram tanta presença assim. Vocês contribuíram de uma maneira incomensurável. Os que leram esses posts e deram suas opiniões, meu muito obrigado.

É isso. Não é o fim de algo. É só um agradecimento. Por que agora, mais do que nunca, sinto como se as duas palavras que definem minha vida são: canção, e mudança.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Voltar em Segurança

"Não sou capaz de lhe dizer o lugar em que estive meu bem. Há falcões planando na minha mente. E cada sorriso, e cada coisa que vi por lá, quando tentei lembrar, se esvaiu." Matthew Ryan


O alarme do celular toca. São 3 da manhã. A escuridão total não me ajudou muito a levantar da cama. Quando finalmente consegui tirar a coberta de cima de mim, lembrei o quão especial era esse dia. O qual diferente ele era pra mim.

Levantei da cama e peguei minha toalha. A melhor opção que tinha numa madrugada gelada de outono era tomar um banho bem quente. Abri a porta do quarto e fui na minha melhor velocidade silenciosa pro banheiro. Difícil foi na hora que desliguei o chuveiro para me enxugar. Mas consegui fazer essa proeza depois de alguns segundos criando coragem e batendo queixo. Já estava atrasado pro café da manhã. Ou da madrugada.

Minha mãe já me esperava na sala. Olhei pra ela, ela estava com um olhar tão pesado, tão triste. Fui logo dando bom dia com o melhor sorriso que tinha e agradeci por ela ter acordado junto comigo pra fazer o café. No fundo eu sabia que ela nem tinha dormido. O café estava maravilhoso: nem muito forte, nem muito fraco. Pãezinhos e biscoitos acompanhavam o cardápio da manhã. Eu sentei na minha cadeira predileta, todas eram basicamente iguais: madeira envernizada e assento baixo, mas essa era a única que não gritava quando sentavam nela. Fui pegando uma chícara a mais do café quente e vendo um jornal da madrugada qualquer. Era minha única opção na TV.

Quando terminei, fui logo indo direto para o banheiro escovar os dentes, eu já estava atrasado. Eram mais ou menos 3h40. Meu pai também estava acordado, sentado na beirada da cama, já de tênis. Dei um abraço forte nele e disse "bom dia pai, sabia que eu amo o senhor?". Já tinha tanto tempo que eu não reparava como era bom ouvir ele respondendo "eu também te amo filho." Com o olho basicamente cheio de lágrimas, respirei fundo e pensei: ainda não.

Quando eu sai de casa meu pai me esperava no carro. Não tinha mais nenhum outro na rua. Minha mãe ficou no banco de trás, sem falar uma palavra. Ela sabia que eu ia querer sentar no banco da frente. Foi exatamente o que fiz. Liguei o celular no som do carro, e comecei a escutar minhas músicas. Inevitavelmente, as músicas eram mais tristes do que pensei. Mais tristes do que eu pensava que poderiam ser. Mas a medida que elas foram tocando eu fui encarando o caminho.

Enquanto a noite corria alta na janela do carro, o vento soprava frio no vidro. Coloquei a mão pra fora da janela e comecei a senti-la congelar. Os sinais de trânsito passando de madrugada pareciam arco íris de três cores. As poucas pessoas que estavam já acordadas, estavam voltando do trabalho ou indo trabalhar. Todas com aquelas caras de que estão muito tristes com a rotina que possuem.

Fiquei olhando as ruas passando. As casas chegando perto, perto, depois passando ao meu lado e ficando cada vez mais para trás. Lembrei das coisas que já fiz em ruas como essa. As brincadeiras de pelada com o pé descalço no asfalto, as inúmeras pipas que já soltei em ventos como esse. A forma com que encarava tudo isso. Sempre esperando pelo que reservava o dia de amanhã, jamais pensando no que poderia fazer com o dia de hoje. Me arrependi disso enquanto meu pai dirigia.

O caminho foi encurtando... O carro foi ficando mais devagar. Começávamos a alcançar nosso destino. Nós três num silêncio ensurdecedor. Mas eu não sabia o que sentir. Não sabia quais atitudes poderia tomar. Se dava as mãos para meus pais, se soltava. As palavras foram fugindo da memória, e cada vez ficava mais difícil pensar no que estava acontecendo. Enfim chegamos ao hospital.

Não é muito complicado entender tudo. A menos de três meses descobri que tinha um tumor na cabeça. Bem atrás do olho esquerdo. A um mês, mais ou menos, ele começou a afetar minha visão. Os médicos não puderam adiar a data da cirurgia. Eu estava tomando remédios fortes para a dor, mas nenhum remédio evitaria que a cirurgia fosse necessária. Então ela foi marcada para hoje, às 8h da manhã.

Enquanto eles raspavam minha cabeça com uma máquina zero, foram me instruindo de como seria o nosso dia no hospital. Os médicos tentavam me fazer ficar calmo. Aplicaram um sedativo leve, só para diminuir o stress pré-operação. Meus pais olhavam pra mim de uma forma que é impossível descrever em texto, mas posso lhe adiantar que é um olhar do qual você se sente profundamente amado, e terrivelmente triste ao mesmo tempo.

A hora ia se aproximando e me deitaram na maca. Eu segurei a mão das duas pessoas mais importantes que conheci, e inevitavelmente agradeci por tudo que fizeram por mim, em toda minha vida. Eles eram o amor na forma mais física que presenciei. Minha cabeça começou a girar. Enquanto arrastavam a maca pelos corredores da ala cirúrgica, as cenas na minha mente iam e voltavam como faróis de carro numa avenida movimentada, na mais alta noite. Cada beijo que dei na vida, cada vez que disse "eu te amo", cada abraço que dei em primos, em tias e tios, meus cachorros de estimação, tudo passando em flashes rapidíssimos. Todos eles na estrada em que estava, só que todos na contra mão, indo para um lugar escuro, tom de sépia, que ia escurecendo e escurecendo até virar um túnel sem fundo. E eu no sentido contrário, deitado, olhando para o teto do hospital. Chorando.

Cinco médicos em volta da cama, a sala estava preparada. Chamei meus pais, e eles me beijaram no rosto. Minha mãe em prantos, meu pai com olhos banhados. Agora era comigo. Era minha força e vontade de viver que decidiriam o resultado daquela manhã. Esperava voltar em segurança. Cedi.

- Atenção senhores, por favor deixem a sala de operação. Vamos começar o processo.

T. Rodrigues

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Na Pista da Vida

O namoro é algo que a gente demora pra tomar coragem de começar, e mais tempo ainda pra achar coragem de terminar. Mas o término dele é algo que deixa marcas. Obviamente a gente não mede amor com tempo, tempo de namoro, tempo de casado, tempo de solteiro. Não é assim que a banda toca. Mas todo mundo que já teve um relacionamento que demorou um pouco mais, alguns anos talvez, sabe como é difícil passar de um status civil para outro.

Luiza era uma pessoa que amava seu namorado. Nos últimos três anos ela tinha dedicado suas carícias, seu estoque de amor, suas peripécias todas pra uma pessoa só. É assim que ela sabia demonstrar seu carinho, ela se dava demais. Mas de uns três meses pra cá ela não sabia muito bem como poderia conciliar seu tempo entre trabalho, estudo, e seu namorado. Mas ela o amava de verdade. Foi quando ela descobriu que tinha que terminar o namoro e se dedicar mais para sua vida pessoal, coisa que ela não fazia há tempos.

O problema é que em idéia é muito fácil. Você chama pra conversa. Explica à situação, ele apavora. Você diz “sente-se, é apenas uma conversa”. Ele ri educadamente, você devolve o sorriso e imagina “eu podia estar em outro lugar”. Apesar das dificuldades do processo, Luiza pensou que poderia lidar com isso. Ela poderia ter uma conversa digna de fim de namoro, e manter sua sensatez.

Mas como diria Joseph Climber, “a vida, é uma caixinha de surpresas.”

Ligou, marcou a conversa, tomou um banho e saiu. Chegou ao local marcado. Ele também. Começaram a conversar. Os sorrisos vieram ao rosto, e quando ela se preparou para dizer “é por isso que eu acho melhor a gente terminar”... ele disse primeiro.

Ele disse todas as palavras que ela tinha preparado para dizer. Disse que não tinha tempo, e que tinha que se concentrar mais em sua vida pessoal. Disse que a amava demais para continuar levando a situação do jeito que estava. Todas aquelas coisinhas. Cada pequeno detalhe na cabeça dela evaporou que nem brigadeiro em festa de criança. Luiza se sentiu desarmada. De repente nada daquilo parecia fazer sentido, de repente ela nem sabia o porquê de ter ido lá. Foi um branco de tal forma, que ela nem queria mais romper com ele. Começou o chororô, abriu o berreiro, e falou coisa que não devia.

A volta pra casa foi duvidosa. Luiza não sabia se ria, se chorava, se ficava feliz, se ficava triste, não sabia de mais nada. Eu particularmente nunca vi ninguém chorar tanto por alguém que não o quis.

Quando ela viu o telefone no gancho, pensou em ligar pra alguém. As duas primeiras amigas não atendiam ao telefone. Ela tinha um gato, mas ele não era muito de papo. Pegou o celular e deu uma olhada na agenda de novo. Viu meu número lá e arriscou a conversa.

Quando a gente vê um número de alguém que não liga a anos pra você na tela do celular, você atende como quem não acredita no que está acontecendo. Em noventa por cento desses casos a pessoa do outro lado está te cobrando algum dinheiro ou pedindo algum favor. Não era o caso.

A gente conversou como velhos amigos conversariam coisa normal. Mas você sabe quando está conversando com alguém que quer te dizer mais do que “oi”, “olá” ou “como vai à vida na penitenciária?”.

Ela me contou tudo que escrevi pra vocês, me falou do branco na cabeça e do brigadeiro em festa de criança. A história até aqui não interessa muito, o que interessa foram os conselhos que consegui naquele dia. Falei pra ela pra deixar aquilo pra lá, que ela não podia é ficar daquele jeito. Falei pra ela por um fim nisso tudo.

Se ela fizesse isso, ele ia voltar, louco pra vê-la, e então teria uma surpresa. Ela nessas horas já teria crescido, já teria se encontrado mais e ocupado um lugar a mais. Seria uma Luiza diferente.

Eu, sinceramente, quero mais é ver ela na pista da vida, dançando sem parar.

Com o tempo, é claro, ele percebeu o erro que tinha cometido e começou a correr atrás. Mas ai já era tarde demais. Não posso julgar sobre a decisão dela. Mas o que posso dizer é que hoje ela está feliz com as decisões que tomou, e sabe muito bem das próximas que tem de tomar. É dona de si.

O legal foi vê-la seguindo o conselho. Vê-la assim, com um ar de quem superou, dá uma satisfação única, pra lá de gratificante.

O ruim da história é saber que eu, que dei o conselho, não sei fazer igual.


Texto baseado na música “Deixe Estar” da banda paulista Cinco a Seco.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Poesia do Ingrato

Por que Deus, me privaste dos desejos?
eu sei que falho, retrocedo
e quando eu menos penso, percebo
que as perdas são mais nada que frutos dos meus erros!

ah! Que sensação triste essa de perder!
Pois na hora ingrata, aquela que antecede o amor
o que me atinge além da sensação de dor
é de saber que perdi algo que não pude conter

Ah Minha fúria! Que ousa calar a astúcia
aquela que finge o tremor, que assiste a culpa
Arrebata-me por dentro, limpa e inunda
quando penso que sei, é o saber que nada muda!

E agora, olho para trás, vendo que perdida estás de mim
e mesmo que apenas queira em teus braços cair
agora que vejo, percebo que nada senti

Quase anos de desejo, achaste alguém a quem contar
teu silêncio e tuas mágoas, todas juntas a farfalhar
sinto que sou inútil agora em poetizar
com discursos, poesias e versos, nada irá mudar

Agora estás a meio passo do paraíso
e até lá os anjos lhe pedem o gosto, o sorriso
tal qual fez meu mundo parar
e na menina de seus olhos me fez cativo

E que esses versos destaquem minha ingratidão
por que mesmo privado dos meus desejos
sinto que com todo esse desapego
posso então pensar que mereço minha redenção.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Rascunho, A Arte do Papel Vazio (parte 2)

Os brasileiros estão cientes que fevereiro é um mês tão ingrato, mas tão ingrato, que fazem uma festa (por sinal a maior do mundo) para se distraírem do fato de que esse mês é tão cruel.

Obviamente algo tinha que mudar. Não dava pra ficar do jeito que estava, ela lá e eu de cá. Muitos motivos me faziam pensar quem era o mais errado da história. Mas gostava tanto dela que assumiria a culpa desse, e de todos os outros problemas, só pra saber se ela voltaria a me chamar de sapo ou qualquer outra coisa, contanto que ela me chamasse. Sentia tanta falta dela em fevereiro que eu não queria viajar.

Geralmente viajo nesse mês. Independente da correria, eu sempre tirava ao menos três dias pra pegar uma boa estrada, ouvir uma boa música e curtir a imensidão que esse estado é. Sozinho, mas acompanhado da natureza. O violão também era um companheiro de viagens quando fazia esse tipo de coisa. Era no meio do mato que eu sabia de tudo, sentia coisas novas. Estava de alguma forma ligado com o chão, o céu, as folhas e todo o resto. Compunha músicas, os textos fluíam no papel. Sempre foi uma sensação completamente sensacional pra mim. Mas nesse mês não quis viajar. Desde dezembro não tinha composto uma música se quer, e o blog estava de mal a pior. Postei algumas das idéias que tinha lá, mas nada de muito complexo, apenas rascunhos que tinha.

Nada fluía da forma que fluía em 2010.

Eu ficava me perguntando como a vida dela estava. Ela era tão sensacional, tão completa, que me perguntava se ela sentia minha falta. Não da forma que eu sentia, por que sei que isso seria impossível. Mas se ela sentisse algo, nem que fosse fraco, já seria o suficiente pra eu saber que ela se importava. E se, por algum motivo, ela não se importasse mais, ela teria suas razões.

Ela teria toda razão do mundo para não me querer mais na vida dela. Nunca fiz algo que realmente a machucasse, isso eu posso afirmar em minha defesa, mas particularmente, não sou um cara que você pode tirar algo de proveito. Não sou um exemplo em nenhum aspecto. Não é drama, é apenas realismo. Cada um tem algo em que é bom, um dom específico, uma forma de se sobressair do resto. Mas minha forma de me sobressair era exatamente não me sobressaindo por ninguém. Sempre fui do tipo que espera na fila do supermercado sem reclamar, que dá passagem pra todos antes de entrar no ônibus. Que sorri e dá bom-dia pra mulher da padaria mesmo sem ela olhar pra mim. Nunca fui muito bom em ser mal educado (e não pensem que eu não tentei, por que a julgar sobre algumas pessoas que eu conheço ser mal-educado é uma arte).

Mas tem uma coisa que me acompanha há anos, e eu nem sei bem explicar por quê. Uma solidão vazia, algo que é maior do que eu possa descrever aqui. Não é algo que se possa preocupar, isso não me prejudica nos meus relacionamentos, nem no resto. Mas é algo que simplesmente vem sem avisar. Eu posso me comprometer com alguém, sim. Mas no exato momento que projeto em minha mente o que vem depois do comprometimento, um enorme muro branco é colocado. Eu simplesmente travo. Uma música que escutei um dia, do cantor Robert Pattinson, de nome “Never Think” simboliza bem o que estou tentando dizer.

Algo do tipo: Salve-se de mim, enquanto ainda há tempo.

As palavras que eu disse em fevereiro grudaram na minha cabeça. Ter saído da minha casa, ido até lá, confrontado tudo o que eu sou e que tenho sido, esquecido meu orgulho pra dizer “sinto sua falta” foi uma das coisas mais difíceis que já fiz na minha vida. As pessoas hoje em dia, falam de mais sobre saudade e sobre amor, e noventa por cento desse tempo estão sendo falsas consigo mesmas e com a pessoa que escuta. Frases como “eu te amo” ou “que saudade de você” foram banalizadas de tal forma, que tem o mesmo peso de um “oi” ou um “bom dia”. Mas o que eu fiz foi verdadeiro. Esqueci mesmo meu orgulho pra poder ter ela de volta. A amizade dela naquele momento seria a melhor coisa que poderia me acontecer.

Mas ela não respondeu. Não digo responder na hora, ouvir minhas palavras. Isso ela fez. Toda ação exige uma reação, e eu esperava essa reação. Dei um passo muito grande em relação a ela, mas ainda sim sobrava um pouco de espaço, e esse espaço, só poderia ser preenchido por ela. Obviamente eu não esperei por um perdão imediato. Só esperei compreensão. Eu sou um cara difícil de entender, por que eu não sei me explicar, imagine quando os outros tentam fazer isso por mim. Mas ela me entendia, ao menos tinha me compreendido todo um ano antes daquele fevereiro. Até hoje, eu não sei qual foi a reação dela. Eu não podia esperar que ela copiasse meus atos e esquecesse o que aconteceu antes. Não tão simples assim.

Mas eu não sabia de tudo aquilo.

O momento em que a encontrei também não foi muito bom. Eu, que estava prestes a mudar de emprego, estava bem mais tranqüilo em relação a meu tempo. Ela não. Toda correria que ela tivera no ano anterior não se comparava a que ela tinha agora, eu percebia ao vê-la falar, e a escutei nesse dia.
Voltei pra casa naquela noite com um pouco de esperança. Sabia que o próximo passo era ela quem tinha que dar, mas também não sabia o quão difícil seria pra ela, então esperei. Dormi aquela noite pensando quão surreal pra mim foi tudo aquilo. O horizonte estava mais distante, e eu não consegui dormir. Não sei se foi ironia, mas naquele dia choveu de madrugada.

Todos os dias depois daquele eu me agarrei ao meu celular. Via os sites de relacionamento sempre que podia. Estava sedento por uma seqüência a aquela história. As respostas não vinham, nenhuma mensagem chegava. Nada de ligações perdidas, e alguns dias foram passando. Algumas semanas foram passando. Nada de resposta.

Eu comecei a ficar inquieto com a situação, por isso tentei me distrair. Depois daquilo comecei a ocupar meu tempo livre com o máximo de coisas possíveis pra esquecer.  Mas não esqueci. Todo o tempo livre que tinha no escritório eu lia um livro, em casa, me ocupava escrevendo ou estudando. O tempo estava passando rápido de mais, mais uma parte dele sempre me torturava, por que mesmo com velocidade, ela sempre vinha e oscilava na minha cabeça, sempre que podia.

Pergunto-me como foi que ela encarou tudo aquilo. Qual foi a reação dela a todas aquelas confissões que fiz em fevereiro. Espero que ela tenha me perdoado, mesmo sem ter voltado sabe? Algo do tipo “deixar ir”. Se for isso tudo bem. Só me atrapalha a idéia de que ela ainda pensa em mim como alguém que a magoou e simplesmente foi embora, como acontece muito por aí. Só não queria entrar pra lista dela de pessoas que já fizeram isso.

Tudo que eu escrevi foi um pedido de desculpas em um papel. Cerca de cinco linhas ao todo, num papel bem pequeno.

Quando vi que não tinha coragem de entregar pessoalmente o pedido, decidi escrevê-lo aqui, e ele acabou aumentando um pouquinho.

Se ela vai ler eu não sei. Se isso vai mudar algo na forma dela pensar, também não sei. Sinceramente não espero. Só acredito que com isso ela veja como eu estava esse tempo todo, e que me perdoe pelos meus atos impensados e ausências indevidas. E que ela saiba que faz falta pra mim, e que se eu pudesse fazer diferente, eu faria. Só não mudaria o ano que tivemos ano passado, as partes boas dele, por que não queria ter passado nada daquilo com outra pessoa que não fosse ela. Sinto falta da amizade dela. E se algum dia isso mudar, espero que a gente consiga levar tempo ao tempo, e que ela, de todas as formas possíveis e pensáveis, seja feliz, comigo ou sem mim.

Por que ela merece mais do que isso.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Rascunho, A Arte do Papel Vazio (parte 1)

Foi em uma terça-feira normal que me lembrei de como nós éramos sensacionais quando estávamos juntos.
Parei pra pensar nas coisas que fazíamos, nas conversas inacabáveis de telefone, nos encontros mais inesperados, nas mil maneiras que tínhamos de nos sentir felizes. Dezembro passou rápido de mais. Eu sentia a falta dela todo dia, e toda vez que pegava no celular, tinha que reler a última mensagem que ela mandou. Aquilo me fazia acreditar que toda nova vez em que lia, a mensagem se fazia recente, e eu tentava sentir naquela hora o que senti quando li da primeira vez, duas, três semanas antes desse momento. Eu estava errado, e estava certo.

Era ela que ouvia minhas músicas quando eu precisava cantá-las. Ela gostava quando eu usava um timbre mais grave, e foi ela quem me convenceu de investir mais na minha voz, e não só no violão. Claro que eu compus músicas pra ela. Nem todas elas foram escutadas, mas eu sei que se ela pudesse teria escutado. Eu amava parar as músicas na metade pra ela poder ficar curiosa de como seria o resto. Tinha vezes que eu não sabia mesmo cantar o resto, detalhe. Eu nunca fui bom com cantorias, ela por outro lado, sempre foi sensacional. Ela fazia músicas sobre estradas e sobre sapos. Ela cantava sobre qualquer coisa, e ainda sim ficava maravilhoso de se ouvir. Sempre foi rara de mais pra ser encontrada tão facilmente.

Uma vez a levei pra ver o por do sol na praça mais alta de Belo Horizonte. Estávamos entre amigos e foi tudo muito perfeito. Um frio cortante corria veloz sobre o chão, e toda vez que passava na nuca dela ela arrepiava, e me abraçava. O cachecol que ela usou nesse dia, ainda tem o cheiro dela. Voltamos da praça e fomos comer no Mcdonalds. Ela radiava o por do sol que assistimos no seu rosto, e no fim desse dia ela mais parecia um anjo do que uma mulher. Mas o dia teve que acabar, e cada um voltou pra sua casa. Cada um dos amigos deixou um pouquinho de si naquela praça, e alguns deles, como eu, ainda querem encontrar o que deixaram lá.

A forma de ela demonstrar como gostava de mim era algo novo, era uma ciência nova e eu estava definitivamente louco para estudá-la.

Eu e ela éramos diferentes, apesar das semelhanças. No fim das contas, eram as coincidências que nos ligavam. A gente sabia que disso, ou pelo menos acho que ela também sabia.

Mas o tempo foi passando e coisas novas começaram a acontecer. Meu trabalho ficava mais exaustivo ao passar dos dias, ela começava uma parte mais agitada nos estudos, e por fim estávamos parando devagar de freqüentar os mesmo lugares. Isso era terrível. Estávamos nos afastando devagar, um do outro. E os meses foram passando rápido. Nem me pediram licença, simplesmente me atropelaram e seguiram a estrada do calendário.

A última vez que a vi em dezembro foi um encontro rápido, no aniversário dela, e havia gente de mais para dizer que aquilo seria o mínimo pessoal possível. Não gostei daquele encontro, e o único efeito que ele produziu foi me deixar mais pra baixo do que já estava naquela data. Ver ela já não me fazia bem, muito pelo contrário; fazia-me sentir mal. Tentava achar o porquê de estarmos tão distantes um do outro, e mesmo não podendo afirmar nada por ela, eu, ainda a amava. Foi coisa de dez minutos. Um “oi” daqui, um “quanto tempo” de lá, de vez em quando um “que saudade de você” e ainda um básico “não consigo ficar longe mais, sua falta é muito pra mim”. Dezembro foi um mês solitário pra mim, e eu sei que o que fiz (ou deixei de fazer) não surtiu efeito.

O natal foi pior ainda. O combinado era convidar ela de um jeito mais formal. Ela e a mãe viriam para minha casa comemorar pela 2010ª vez o nascimento. Foi puro projeto. Eu ia ligar, não ligava. Ia passar na casa dela, mas não conseguia bater a campainha; digitava verdadeiros textos de mensagem no celular, mas na hora de enviar eu desistia. Aquele bloqueio que tinha com ela (de meses agora) só continuava crescendo. Acabou que ela não foi mesmo, não deu feliz natal nem noticiais quaisquer, e eu fiquei desolado com isso. Principalmente na hora que minha tia disse “fiz pudim pra ela Thiago, quando ela chega?”.

Ela estava rodeada de melhores amigas, isso era muito bom para ela. Imagino que esse tipo de conversa, foi conversada mil vezes com elas, pensada e repensada, enquanto eu muitas vezes conversava com a tela do computador e as cordas do violão. Eu também tinha amigos, claro. Mas nenhum deles estava interessado na minha vida particular em pleno natal.

Foi nessa hora que eu fiquei magoado. Fora o natal, coisas importantes começaram a acontecer. As frases não ditas foram as que mais pesaram. Já não tinha recebido o “feliz natal”, e o “feliz ano novo” também não veio. Depois disso tive a resposta do exército, num dia 13 de janeiro chuvoso, a grande resposta, aquela que mudaria minha vida. Foi negativa. Tinha tudo arranjado, todos os planos feitos, eu até chegava a saber onde dormiria dentro do centro preparatório de oficiais da reserva. Mas no dia de saber minha designação, fui dispensado por excesso de contingente. Foi como bater a 130 km/h numa parede de tijolos, tendo acertado antes duas velhinhas e um animal em extinção.

Então janeiro, que começava desse jeito, começava a se aproveitar de mim. Depois da decepção do exército, eu não sabia que rumo tomar, e na maior parte do tempo ficava deprimido pensando em como alguns anos de planejamento foram por água abaixo em apenas um segundo, naquela manhã de 13 de janeiro. Passar por aquilo tudo sozinho foi a maior barra de todas. Sempre tive uma família presente, só que sempre fui um cara fechado. Sempre gostei de fazer as coisas por mim e ser muito perfeccionista, e ela era que me ouvia quando eu precisava.

Só que ela não estava mais aqui.

Mas o mais injusto de todos, mais que a situação, era eu. Eu sabia que no ano anterior eu tinha errado muito com ela. Sabia que em agosto, setembro, eu estava ausente de mais. Mas o que eu não sabia era o porquê de ter ficado tão ausente. Essa era minha sina. Sei que o maior culpado por estarmos até hoje tão distantes, sou eu. Não me orgulho disso.

No final de janeiro eu já via que não conseguia ficar mais nessa situação.

Então foi quando em fevereiro, eu fui até a casa dela. Disse um monte de coisas sem sentido, disse o quanto sentia falta dela, e o quanto ela era importante. Falei de como me sentia em tê-la deixado em segundo plano na minha vida. Grande parte da culpa de ter me afastado se deu a meu emprego, me dedicava muito a minha carreira e quase nada pro resto. Não soube me balancear, e disse isso também. Dei um passo muito grande em fevereiro. Isso não tirava minha culpa, apenas era meu jeito de tentar consertar tudo, por que ainda sentia falta dela, da amizade dela, e não era pouca.

Mas fevereiro é um mês ingrato. Muitas coisas mais aconteceram depois destas...

(CONTINUA)

quarta-feira, 2 de março de 2011

Aviso aos Leitores

Olá leitores! Bom, estou passando apenas para informar uma coisa. A melhor forma de saber como anda o blog, se quem lê está gostando, e o que tenho que mudar ao longo dos posts e tudo mais, é por vocês. Eu sei, as vezes escrevo posts longos de mais, e quem vê fica até com preguiça de comentar, e pensando exatamente nisso, coloquei botões do "curtir" do facebook, e "twittar isso".

É engraçado, quando converso com as pessoas que conheço, elas me falam "gostei do seu blog, sempre leio" ou "o último texto seu ficou legal", mas se não fosse por esses encontros aleatórios, eu jamais saberia! haha

Então, peço pra vocês meus leitores, que quando vocês lerem algo aqui, que seja de agradável leitura, clique no botão "gostar" no final da postagem. É um retorno agradável para mim, e não é muito a se pedir.

E se você quer divulgar meu blog no twitter, é só clicar no botão correspondente.

Já estou pensando no próximo post do blog, então até lá, indique pra seus amigos o mais recente, "29 dias". Muito obrigado por visitar a Canção da Mudança, e um abraço!

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

29 dias.

Sorrisos para algumas pessoas são como relâmpagos numa tempestade. Eles caem com frequência, rápidos, e as vezes meio que automáticos. Para outras pessoas, sorrisos são como arco-íris depois de um dia de chuva. Elas precisam de todo um contexto para o fazer, e se a sintonia for perfeita, ele acontece rápido, não tão discreto, porém lindo.

Há tantas coisas nesse mundo que precisam de tempo para se tornarem inesquecíveis. Pense bem, o atraso desses prazeres os tornam melhores em ser conquistados. A lua é um exemplo perfeito. Seu período sinódico (intervalo que leva a se repetir uma fase) é uma coisa simples, porém magnífica. São aprox. 29 dias entre duas luas cheias. Veja bem: Se a lua fosse cheia sempre, seria linda todos os dias, ou seria normal de mais pra ser especial?

Dentre todas as coisas deste mundo, penso que a coisa mais linda a se guardar, são os sorrisos. Eles representam milhões de coisas, dizem coisas diferentes, e cada pessoa tem vários tipos. Não me aventurarei no assunto "tipos de sorriso", e peço apenas que você leitor, preste atenção nesse detalhe: O melhor a se guardar, é seu sorriso.

Conheço pessoas que guardam abraços. Pessoas que guardam canções, e até arrisco dizer que conheço gente que coleciona rancores. Mas de todas elas, e isso eu lhes afirmo amigos: o tipo mais raro é o que coleciona sorrisos.

São os mais lindos de se assistir.

Ver um amigo após tempos sem se falar, sorrir pra alguém que você não conhece, ser aquele que recebe o sorriso. São momentos que parecem vir em câmera lenta. Isso que acontece ao nascer de um sorriso: Se recebe um presente incondicional, inevitavelmente correspondido, irreversivelmente contagioso.

Agora penso, de todas as coisas que posso guardar, por que não guardar sorrisos? Digo, posso guardar quase tudo. Posso guardar mágoas passadas, posso fazer caretas de sorrisos que não recebi, posso ser rancoroso com meu futuro e minhas escolhas, mas por que não posso guardar sorrisos pra todos esses momentos também? É o melhor que tenho.

Não digo pra você sair distribuindo alguns. A única coisa que alguém deve distribuir irrevogavelmente é a educação. Quanto a sorrisos, associe-os as fases da lua: Dê tempo para seu espectador saber o que o espera. Faça ele se orgulhar de esperar 29 dias por outro sorriso.

Mas não deixe de o fazer. Quem espera 29 dias por uma lua cheia não espera um céu nublado, não estrague as expectativas de alguém que espera por você.

Espere pelos sorrisos que valem os seus.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Depois dos Bastidores

"O palco de Annandale não é grande, e nem muito famoso, mas respeitado. Qualquer músico que esteja começando, queria tocar nesse lugar. As vezes imagino que até os músicos que estão a tempos na estrada deveriam tocar por lá. É tão pequeno, que a apresentação vira quase particular. É sensacional. E ninguém, absolutamente ninguém está livre do frio na barriga que dá antes de subir lá. Ou na maioria dos outros palcos.

Um homem, um violão, um repertório e várias mentiras a serem contadas. Isso define basicamente o que é um cantor antes do show. É algo que imagino ser brutal. Vender mentiras. Digo, obviamente, nem todas as músicas são mentiras, e algumas delas no momento não são, mas um dia se tornarão. Hoje você canta sobre amor, talvez amanhã sobre ódio, e uma coisa é fato: Seu ponto de vista de hoje não será o de amanhã. Ele vai mudar.

Colocar o violão nas mãos, é como uma segunda vida. É como se o soldado estivesse limpando a arma que vai usar na guerra, como se o piloto de carros entrasse na máquina da corrida, como se o garoto fosse dar seu primeiro beijo naquela garotinha. É um passo gigante, e precisa-se de coragem.

Todos em Annadale esperam por ele subir, e fazer um ótimo show. Cantar sobre amores, sobre vidas arruinadas, sobre felicidade única e sobre outros assuntos assim, é o que eles esperam. Pagaram para ouvir a mesma coisa que todos cantam: mentiras.

"Se todos cantam o mesmo, qual é a mentira que vocês querem ouvir?" Ele pensa assim. Mas suas músicas não são nada casuais. Ele não espera a aceitação do público. Ele espera ser ouvido: e isso meus caros, é algo com propósito. É lindo.

As músicas que falam de amizade verdadeira, e como acabam, de atitudes estúpidas que todos cometem, e como continuam cometendo, são os assuntos. Como somos estúpidos em não desejar a mudança de nossos atos, das músicas que escutamos, dos shows que pagamos pra ver. Das mentiras que compramos todos os dias. Esses eram os refrões que foram tocados nessa noite.

Quase ninguém comprou a idéia naquele dia em Annandale. Mas foi um ótimo show. Frases como "é por isso que ainda não desisti" ou "somos capazes de fazer muito mais do que as estatísticas no jornal dizem" ecoaram na cabeça de quem esteve lá. Isso fez a diferença.

Eles diziam que não dava pra mudar o mundo, que tentar mudá-lo só o faria ficar pior. Mas aquele artista, naquele show, fez diferente. Botou vários sorrisos em vários rostos, e eles cultivaram outros mais, e logo era uma epidemia de conteúdo em Annadale.

Eu estava lá, e mudei meu jeito de pensar. Sei que posso encontrar outras casas de shows, outros lugares em que posso escutar conteúdo, mas Annandale nunca sairá da minha mente, por que naquele dia, aprendi quais são as mentiras que não posso mais comercializar, e quais mensagens eu passo nas minhas canções.

É por isso que hoje toco aqui, em Annadale, e pretendo cantar cultura, mostrar conteúdo. Por que eu, posso ser único sendo um só. E é por isso que não desisti ainda.

A, e o artista que tocou aquela noite, seu nome é Newton Faulkner."

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Entre Braços e Asas.

Estava entre irmãos, era verdade, mas isso não diminuía um centímetro se quer da altura a que estava. Ele olhava pra baixo sem saber o que fazer, nunca tinha chegado tão longe. Primeiro seus irmãos, agora ele, e era algo que tinha que ser feito.

Pra quem assiste é fácil. É só se jogar, que o vento faz o resto. Obviamente não é tão fácil assim, e ele sabia disso, e isso o deixava completamente nervoso e amedrontado. Ele podia se negar a pular, poderia sim. Mas isso mostraria sua covardia e estamparia em seu rosto a derrota. E ele não era assim.

Se perguntava: "é a hora certa? digo, tudo tem seu tempo, certo?" E realmente tudo leva tempo pra evoluir. Suas asas eram pequenas, e seu corpo também. Estava a uma distância do chão cerca de 100 vezes maior do que seu tamanho, e morar no alto de um pinheiro não ajudava em nada em matéria de auto-estima. Voar era algo difícil de se aprender.

Dois passos pra beirada e ele olha lá em baixo. Aquela vertigem que dá dor de cabeça atacou ele por um momento ou dois, mas ele voltou a si. Era realmente alto. Seus irmãos pulavam, davam piruetas no ar, faziam espirais com seus rastros ao vento, e era magnífico de assistir "o primeiro vôo". Haveria algo mais bonito de se ver? É como um bebê engatinhando, dando seu primeiro passo, sua primeira palavra, dizendo "mamãe"... Era belo de se ver, com certeza. Mas realizar era difícil. Voar era uma arte inexplorada e fascinante.

Promessas eram feitas, ele olhava para trás. Todos ali, esperando o salto. E ele esperando a coragem para fazê-lo. E então ele a encontra. Chega na beira, não olha para baixo. Abre suas asas e respira fundo, e então se joga.

Por alguns momentos ele sentia apenas a queda, o vento cortar as linhas de seu corpo. Era tempo de adaptar suas asas a velocidade em que caia. Aquele desespero súbito vinha e invadia, mas ele estava aprendendo a respirar, aprendendo a "engatinhar". Quando suas asas estão totalmente abertas (e acredite meu amigo, era bem perto do chão), ele simplesmente arremete, e sobe novamente. O impulso deixado pela gravidade faz com que ele suba alto.

Um sorriso invade o rosto, ele canta alegre. A parte mais difícil tinha passado, e ele estava feliz. Saltar era o principal, e abrir as asas era necessário. Mas agora era hora de aprender a batê-las. Primeiro ele tenta fazer numa velocidade absurda, batendo depressa, isso faz com que o vento não passe pelas asas e ele começa a cair novamente. Vendo que sua estratégia não era eficaz, ele muda pra um "plano B", e bate devagar. Agora, ele dá pequenos saltos no ar, caindo e subindo, caindo e subindo, até achar a velocidade certa para bater, e assim aprender a estabilizar seu vôo.

Agora sim ele podia voar! Podia voltar a seu ninho, descer até o chão, dar piruetas e tudo mais que quisesse. Era a mágica do voar. Abrir e fechá-las em teoria é fácil. Mas nem por isso o passarinho deixa de cair ao tentar, e muito menos deixa de voar ao conseguir. Era perfeito de se assistir.

Explorar novos horizontes, ver o lago do alto do céu. Acompanhar o sol em sua jornada diária, seu nascer e se pôr, ver a lua invadir a terra e apaixonar-se com o mar a cada noite. Ondas paralelas e outros pássaros. Ver a multidão, e não escutar o barulho, estar acima de seus problemas. Era uma vida nova, vida linda, essa de passarinho.

Mas afinal, qual é a diferença entre braços e asas?