segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

20 minutos para 272km, Confissões de Uma Mente Confusa

Vamos lá Thiago, tente se lembrar. Como eu vim parar aqui? Se concentre. Pense um pouco no assunto. Ok, tem uma mala no chão, estou com os fones ligados. E essa passagem na mão.

Vamos Thiago, pense! O que te trouxe aqui? Vamos lá, junte as peças pelo amor de Deus. Mas esses flashes... Estou perdido! Tudo está tão confuso. Respire. E essa dor no peito? Quando ela apareceu? Batimentos acelerados, você está suando frio. Relaxe Thiago! Respire fundo e esqueça o resto, se concentre em saber como você chegou aqui. Vá fundo, relembre os fatos. Uma festa... Amigos. Parece um borrão na minha cabeça, dói lembrar... Amigos. Junte as peças. Foi quando ela apareceu.



São imagens distintas, parece um sonho, ou um dejavú qualquer. E essa dor de cabeça. Martelando no lado esquerdo, no direito... Meus olhos. Os olhos dela. Os olhos verdes. Me lembrei! Ela. Respire fundo, você está conseguindo. O que você lembra dela? Memórias. Isso! Esse era o assunto, memórias. A forma como lembramos das coisas. A memória mais acessada é provavelmente a menos verdadeira. Isso, continue!

Uma conversa simples, sim, uma conversa longa e simples! Fiquei hipnotizado no olhar dela. Aqueles olhos... A memória está falhando. Concentre-se. O que vem depois?

O que vem depois... Converse comigo. Conversa! É isso, muitas e muitas conversas, brincadeiras, assuntos diversos, sorrisos estranhos, memórias adaptáveis, doenças, música, medicina, poesia, e de volta tudo outra vez... Espere. O coração. Pulsando. Bombeando. Respire.

Como isso pode ter trazido você aqui? E essa passagem? O que tem a ver? Relaxe! Meu Deus homem, se controle. Junte as peças, você estava vendo a dois segundos atrás, estava indo bem!

Flashes, e mais flashes... Sala escura, filme! Música havaiana, companhia...



Mas parece tudo tão surreal, tão rápido. Tão sincero. Estou com dificuldade de lembrar o que de fato aconteceu. Lembre-se. Tente um pouco mais forte, um pouco mais perto... Reconhece essa foto? Essa, atrás da passagem. É dela não é? De quando é? Não sei... É uma foto dela maquiada de palhaça. Mas por que essa foto? Por que a primeira coisa que amei nela foi a forma que ela se preocupava com as pessoas. Isso... Continue!

A forma com que ela se preocupava com as pessoas... Isso foi assunto. Eu me preocupo com as pessoas. Me preocupo com ela. Mas não me lembro. Que aflição! Espere. A passagem. O horário do ônibus... Sai daqui a 20 minutos. Não sei o que fazer. Por que deveria entrar? Algo me diz pra ficar. Algo me diz pra tentar de novo. Meus pais, meus amigos... Ela.

O coração, de novo. Que droga! Por que toda vez que me lembro dela dói? Droga! Não me lembro!

Começou a chover na rodoviária, mal presságio. O tempo está passando Thiago, lembre... Mal presságio. Ambiente pesado... Ambiente pesado! Me lembro disso! Lembro de pessoas dançando, de pessoas legais, mas o ambiente era pesado... A sensação. Mas não era pesado pra mim. Era pesado pra ela... Estou indo bem! Vamos lá.

Estou alcançando, me acalmando. Selvagem como o fogo queimando debaixo da chuva, contido como um leão na jaula. Mas estávamos indo bem! O que aconteceu? Não me lembro. Foi recente. Essa foto. Essa da minha cabeça. Era só mais uma foto qualquer. Cinco pessoas, e ela. Não queria magoá-la, pelo contrário... É isso! Confusão. Essa confusão é dela também... Mas o que está acontecendo? Ainda não sei o que me trouxe aqui.

Tem um cara do meu lado. Parece estar aqui a tempos. Perguntei pra ele como eu cheguei aqui. Ele me disse que a 30 minutos atrás eu vim andando, parecia abatido, sentei nessa poltrona do terminal e cochilei 5 minutos. E então eu acordei, mas pelo que parece o pesadelo começou.



O que eu faço agora? Eu só queria ser feliz. Não tinha a intenção de magoar ninguém. Especialmente ela. Mas o machucado aqui sou eu. O coração... Dói! Meu Deus. Dói muito. Estou me lembrando... Espere, o ônibus sai daqui 5 minutos, e o ajudante do motorista está chamando os passageiros. Parece que ainda durmo... Meu Deus. Tento me levantar, acho melhor eu ir. Não causei felicidade a ninguém, só acabei machucando as pessoas que amava aqui. Acho que essa cidade vai ficar melhor sem mim. Acho que é hora de partir.

Mas e agora, o que eu faço? Não me lembrei totalmente. Tão rápido, tudo aconteceu tão rápido... São milhões de motivos pra não tentar. Pra esquecer. Mas parece que os motivos que me fazem tentar se encaixam na felicidade. Na minha felicidade. Mas não na dela. Seria egoísta de mais. Não acabou enquanto o fim não chegar. Mas o fim chegou?

Não sei pra onde ir daqui. Não sei onde caí, mas sei que o chão é o mais baixo. De vez em quando, lugar nenhum te leva pra algum lugar. No fim.

Deixei a foto cair. Alguém pegou pra mim. Cabelos loiros, longos... Lábios... Espere. Ela. Ela! Mas o rosto está diferente. Não consigo me lembrar. Minha cabeça explodindo... Essa dor no peito! Não sei o que fazer.
Não sei se consigo mais. Não sei o que é ilusão, o que foi verdade, o que não foi. Difícil... Difícil me ater ao real. Não me dou muito bem com a realidade.

Deus, me ajude!

T. Rodrigues

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

3 parágrafos

Audrey Hepburn, Moon River
É engraçado ver como as coisas acontecem. É irônico ver que a vida segue um curso que nenhum de nós consegue prever. E os momentos em que mais estive triste aconteceram exatamente quando tentei estar um passo à frente dela.

Cá estou eu, quieto na minha, tentando me acostumar com algumas coisas que aconteceram recentemente. Família, sempre com problemas como todas as outras, deixei meu emprego, e recebo a notícia que vou me mudar. É, a vida é implacável, e o engraçado é saber que sempre tenho uma parcela de culpa.

No meio de tudo isso, como se a calmaria viesse ao fim do temporal, como se o inverno tivesse dissipado sua última brisa gelada em nossos rostos, no meio desse vendaval de fatos e no meio de um tempo conturbado, ela aparece.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Relacionamentos

Então, eu estava aqui pensando sobre relacionamentos, e canções sobre relacionamentos, então veio pra mim o seguinte: Eu meio que imaginei a chave dos relacionamentos em como fazê-los funcionar. Acompanhe comigo.

Quando você conhece uma pessoa, você descobre nela o que você gosta, ai vem um amigo dela, ou um amigo de um amigo dela e diz pra você "ela gostou muito de você", isso te joga no chão, acaba contigo, você fica meio perdido e tem que voltar pra superfície. Ai você pega o telefone dela e tem uma ótima conversa, daí você vira pra ela e diz "poxa, a conversa foi muito boa, será que nós podemos nos encontrar um dia desses, só nós dois?" Então a pessoa diz, meio na dela, "sim, eu gostaria disso".

"Eu gostaria disso" te joga no chão e faz seu coração quase parar. Só por causa dessa frase. Nada te faz sentir melhor do que "eu gostaria disso." Então agora sua pulsação aumenta, você fica a uns quinze centímetros do chão, planando, e você não consegue dormir por causa do "eu gostaria disso".

Então você investe mais, começa a ligar mais, e conversar todo o tempo, e está dando certo, ai você joga a bomba pro alto e decide ir mais fundo, você vira pra pessoa e diz: "quer saber? Eu venho pensando em você". Então ela dá uma respirada funda do outro lado da linha meio que perdendo o fôlego e você diz "o que aconteceu? Você está bem?" Ela vira pra você e diz "desculpe, me desculpe, é que... É que eu venho pensando muito em você também."

BOOOM. Você agora está a uns 45 metros do chão, alto no céu.

Agora o "eu gostaria disso" já era, não tem mais poder algum, agora a frase coringa é "eu venho pensando muito em você também".

Então, não importa o número de semanas que se passaram, ou meses, ou dias pros rapidinhos, o tempo que levar pra você se sentir confortável e dizer pra pessoa: "olha, tenho algo pra te contar" e a pessoa diz, "pode falar", e você subitamente vira e fala "eu amo você."

E nada no mundo soa melhor do que "eu amo você".

E talvez ela comece a chorar, ou talvez ele perca o fôlego. Repentinamente.

Mas agora, o que não funciona? "Eu gostaria disso" e "Eu venho pensando muito em você". Por que agora vocês estão no nível "eu amo você."

Eu amo você, é o que perdura, mas o tempo vai passando, ai você começa a mudar a intensidade, você diz "eu amo você muito", "eu amo você muito mais", "eu amo você mais do que qualquer coisa nesse mundo", e agora, "eu amo você não funciona mais, você tem que continuar.

Ai você avança seis meses, ou seis semanas, qualquer tempo que for dependendo do caso, e agora as frases são "eu quero me casar com você", "eu quero engravidar você com meu amor"... "Eu quero, eu quero... Eu... Caramba, as palavras não funcionam mais!" Ai você apela e vai pra essa frase: "Eu gostaria que eles colocassem uma nova palavra no dicionário que seja maior que "amor", por que "amor" já não descreve o que eu sinto!"

Então agora, chegamos num ponto em que ele ou ela começa a perguntar "você me ama?", e você diz "é claro que eu te amo", e ela ou ele: "Então diga pra mim!", e o desespero te leva para a parte do "diga duas vezes então", "diga três vezes"...

E então, você atravessa um ponto muito, muito interessante, em que de repente acontece um "eu te odeio". E você pensa, "Oh meu Deus, ela me odeia". E agora está mais pro "eu te odeio mais do que qualquer coisa", e daí para o "acabou pra nós", então você diz "não, não acabou", e ela diz "sim, acabou!"

E agora as palavras simplesmente não funcionam mais, você está devastado, você está dando socos na água. Está acabado.

Você sabe qual é a moral da história, se é que essa história tem uma?

Nunca, nunca, jamais, subestime o poder da frase "eu gostaria disso."


T. Rodrigues