sexta-feira, 29 de abril de 2011

Rascunho, A Arte do Papel Vazio (parte 2)

Os brasileiros estão cientes que fevereiro é um mês tão ingrato, mas tão ingrato, que fazem uma festa (por sinal a maior do mundo) para se distraírem do fato de que esse mês é tão cruel.

Obviamente algo tinha que mudar. Não dava pra ficar do jeito que estava, ela lá e eu de cá. Muitos motivos me faziam pensar quem era o mais errado da história. Mas gostava tanto dela que assumiria a culpa desse, e de todos os outros problemas, só pra saber se ela voltaria a me chamar de sapo ou qualquer outra coisa, contanto que ela me chamasse. Sentia tanta falta dela em fevereiro que eu não queria viajar.

Geralmente viajo nesse mês. Independente da correria, eu sempre tirava ao menos três dias pra pegar uma boa estrada, ouvir uma boa música e curtir a imensidão que esse estado é. Sozinho, mas acompanhado da natureza. O violão também era um companheiro de viagens quando fazia esse tipo de coisa. Era no meio do mato que eu sabia de tudo, sentia coisas novas. Estava de alguma forma ligado com o chão, o céu, as folhas e todo o resto. Compunha músicas, os textos fluíam no papel. Sempre foi uma sensação completamente sensacional pra mim. Mas nesse mês não quis viajar. Desde dezembro não tinha composto uma música se quer, e o blog estava de mal a pior. Postei algumas das idéias que tinha lá, mas nada de muito complexo, apenas rascunhos que tinha.

Nada fluía da forma que fluía em 2010.

Eu ficava me perguntando como a vida dela estava. Ela era tão sensacional, tão completa, que me perguntava se ela sentia minha falta. Não da forma que eu sentia, por que sei que isso seria impossível. Mas se ela sentisse algo, nem que fosse fraco, já seria o suficiente pra eu saber que ela se importava. E se, por algum motivo, ela não se importasse mais, ela teria suas razões.

Ela teria toda razão do mundo para não me querer mais na vida dela. Nunca fiz algo que realmente a machucasse, isso eu posso afirmar em minha defesa, mas particularmente, não sou um cara que você pode tirar algo de proveito. Não sou um exemplo em nenhum aspecto. Não é drama, é apenas realismo. Cada um tem algo em que é bom, um dom específico, uma forma de se sobressair do resto. Mas minha forma de me sobressair era exatamente não me sobressaindo por ninguém. Sempre fui do tipo que espera na fila do supermercado sem reclamar, que dá passagem pra todos antes de entrar no ônibus. Que sorri e dá bom-dia pra mulher da padaria mesmo sem ela olhar pra mim. Nunca fui muito bom em ser mal educado (e não pensem que eu não tentei, por que a julgar sobre algumas pessoas que eu conheço ser mal-educado é uma arte).

Mas tem uma coisa que me acompanha há anos, e eu nem sei bem explicar por quê. Uma solidão vazia, algo que é maior do que eu possa descrever aqui. Não é algo que se possa preocupar, isso não me prejudica nos meus relacionamentos, nem no resto. Mas é algo que simplesmente vem sem avisar. Eu posso me comprometer com alguém, sim. Mas no exato momento que projeto em minha mente o que vem depois do comprometimento, um enorme muro branco é colocado. Eu simplesmente travo. Uma música que escutei um dia, do cantor Robert Pattinson, de nome “Never Think” simboliza bem o que estou tentando dizer.

Algo do tipo: Salve-se de mim, enquanto ainda há tempo.

As palavras que eu disse em fevereiro grudaram na minha cabeça. Ter saído da minha casa, ido até lá, confrontado tudo o que eu sou e que tenho sido, esquecido meu orgulho pra dizer “sinto sua falta” foi uma das coisas mais difíceis que já fiz na minha vida. As pessoas hoje em dia, falam de mais sobre saudade e sobre amor, e noventa por cento desse tempo estão sendo falsas consigo mesmas e com a pessoa que escuta. Frases como “eu te amo” ou “que saudade de você” foram banalizadas de tal forma, que tem o mesmo peso de um “oi” ou um “bom dia”. Mas o que eu fiz foi verdadeiro. Esqueci mesmo meu orgulho pra poder ter ela de volta. A amizade dela naquele momento seria a melhor coisa que poderia me acontecer.

Mas ela não respondeu. Não digo responder na hora, ouvir minhas palavras. Isso ela fez. Toda ação exige uma reação, e eu esperava essa reação. Dei um passo muito grande em relação a ela, mas ainda sim sobrava um pouco de espaço, e esse espaço, só poderia ser preenchido por ela. Obviamente eu não esperei por um perdão imediato. Só esperei compreensão. Eu sou um cara difícil de entender, por que eu não sei me explicar, imagine quando os outros tentam fazer isso por mim. Mas ela me entendia, ao menos tinha me compreendido todo um ano antes daquele fevereiro. Até hoje, eu não sei qual foi a reação dela. Eu não podia esperar que ela copiasse meus atos e esquecesse o que aconteceu antes. Não tão simples assim.

Mas eu não sabia de tudo aquilo.

O momento em que a encontrei também não foi muito bom. Eu, que estava prestes a mudar de emprego, estava bem mais tranqüilo em relação a meu tempo. Ela não. Toda correria que ela tivera no ano anterior não se comparava a que ela tinha agora, eu percebia ao vê-la falar, e a escutei nesse dia.
Voltei pra casa naquela noite com um pouco de esperança. Sabia que o próximo passo era ela quem tinha que dar, mas também não sabia o quão difícil seria pra ela, então esperei. Dormi aquela noite pensando quão surreal pra mim foi tudo aquilo. O horizonte estava mais distante, e eu não consegui dormir. Não sei se foi ironia, mas naquele dia choveu de madrugada.

Todos os dias depois daquele eu me agarrei ao meu celular. Via os sites de relacionamento sempre que podia. Estava sedento por uma seqüência a aquela história. As respostas não vinham, nenhuma mensagem chegava. Nada de ligações perdidas, e alguns dias foram passando. Algumas semanas foram passando. Nada de resposta.

Eu comecei a ficar inquieto com a situação, por isso tentei me distrair. Depois daquilo comecei a ocupar meu tempo livre com o máximo de coisas possíveis pra esquecer.  Mas não esqueci. Todo o tempo livre que tinha no escritório eu lia um livro, em casa, me ocupava escrevendo ou estudando. O tempo estava passando rápido de mais, mais uma parte dele sempre me torturava, por que mesmo com velocidade, ela sempre vinha e oscilava na minha cabeça, sempre que podia.

Pergunto-me como foi que ela encarou tudo aquilo. Qual foi a reação dela a todas aquelas confissões que fiz em fevereiro. Espero que ela tenha me perdoado, mesmo sem ter voltado sabe? Algo do tipo “deixar ir”. Se for isso tudo bem. Só me atrapalha a idéia de que ela ainda pensa em mim como alguém que a magoou e simplesmente foi embora, como acontece muito por aí. Só não queria entrar pra lista dela de pessoas que já fizeram isso.

Tudo que eu escrevi foi um pedido de desculpas em um papel. Cerca de cinco linhas ao todo, num papel bem pequeno.

Quando vi que não tinha coragem de entregar pessoalmente o pedido, decidi escrevê-lo aqui, e ele acabou aumentando um pouquinho.

Se ela vai ler eu não sei. Se isso vai mudar algo na forma dela pensar, também não sei. Sinceramente não espero. Só acredito que com isso ela veja como eu estava esse tempo todo, e que me perdoe pelos meus atos impensados e ausências indevidas. E que ela saiba que faz falta pra mim, e que se eu pudesse fazer diferente, eu faria. Só não mudaria o ano que tivemos ano passado, as partes boas dele, por que não queria ter passado nada daquilo com outra pessoa que não fosse ela. Sinto falta da amizade dela. E se algum dia isso mudar, espero que a gente consiga levar tempo ao tempo, e que ela, de todas as formas possíveis e pensáveis, seja feliz, comigo ou sem mim.

Por que ela merece mais do que isso.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Rascunho, A Arte do Papel Vazio (parte 1)

Foi em uma terça-feira normal que me lembrei de como nós éramos sensacionais quando estávamos juntos.
Parei pra pensar nas coisas que fazíamos, nas conversas inacabáveis de telefone, nos encontros mais inesperados, nas mil maneiras que tínhamos de nos sentir felizes. Dezembro passou rápido de mais. Eu sentia a falta dela todo dia, e toda vez que pegava no celular, tinha que reler a última mensagem que ela mandou. Aquilo me fazia acreditar que toda nova vez em que lia, a mensagem se fazia recente, e eu tentava sentir naquela hora o que senti quando li da primeira vez, duas, três semanas antes desse momento. Eu estava errado, e estava certo.

Era ela que ouvia minhas músicas quando eu precisava cantá-las. Ela gostava quando eu usava um timbre mais grave, e foi ela quem me convenceu de investir mais na minha voz, e não só no violão. Claro que eu compus músicas pra ela. Nem todas elas foram escutadas, mas eu sei que se ela pudesse teria escutado. Eu amava parar as músicas na metade pra ela poder ficar curiosa de como seria o resto. Tinha vezes que eu não sabia mesmo cantar o resto, detalhe. Eu nunca fui bom com cantorias, ela por outro lado, sempre foi sensacional. Ela fazia músicas sobre estradas e sobre sapos. Ela cantava sobre qualquer coisa, e ainda sim ficava maravilhoso de se ouvir. Sempre foi rara de mais pra ser encontrada tão facilmente.

Uma vez a levei pra ver o por do sol na praça mais alta de Belo Horizonte. Estávamos entre amigos e foi tudo muito perfeito. Um frio cortante corria veloz sobre o chão, e toda vez que passava na nuca dela ela arrepiava, e me abraçava. O cachecol que ela usou nesse dia, ainda tem o cheiro dela. Voltamos da praça e fomos comer no Mcdonalds. Ela radiava o por do sol que assistimos no seu rosto, e no fim desse dia ela mais parecia um anjo do que uma mulher. Mas o dia teve que acabar, e cada um voltou pra sua casa. Cada um dos amigos deixou um pouquinho de si naquela praça, e alguns deles, como eu, ainda querem encontrar o que deixaram lá.

A forma de ela demonstrar como gostava de mim era algo novo, era uma ciência nova e eu estava definitivamente louco para estudá-la.

Eu e ela éramos diferentes, apesar das semelhanças. No fim das contas, eram as coincidências que nos ligavam. A gente sabia que disso, ou pelo menos acho que ela também sabia.

Mas o tempo foi passando e coisas novas começaram a acontecer. Meu trabalho ficava mais exaustivo ao passar dos dias, ela começava uma parte mais agitada nos estudos, e por fim estávamos parando devagar de freqüentar os mesmo lugares. Isso era terrível. Estávamos nos afastando devagar, um do outro. E os meses foram passando rápido. Nem me pediram licença, simplesmente me atropelaram e seguiram a estrada do calendário.

A última vez que a vi em dezembro foi um encontro rápido, no aniversário dela, e havia gente de mais para dizer que aquilo seria o mínimo pessoal possível. Não gostei daquele encontro, e o único efeito que ele produziu foi me deixar mais pra baixo do que já estava naquela data. Ver ela já não me fazia bem, muito pelo contrário; fazia-me sentir mal. Tentava achar o porquê de estarmos tão distantes um do outro, e mesmo não podendo afirmar nada por ela, eu, ainda a amava. Foi coisa de dez minutos. Um “oi” daqui, um “quanto tempo” de lá, de vez em quando um “que saudade de você” e ainda um básico “não consigo ficar longe mais, sua falta é muito pra mim”. Dezembro foi um mês solitário pra mim, e eu sei que o que fiz (ou deixei de fazer) não surtiu efeito.

O natal foi pior ainda. O combinado era convidar ela de um jeito mais formal. Ela e a mãe viriam para minha casa comemorar pela 2010ª vez o nascimento. Foi puro projeto. Eu ia ligar, não ligava. Ia passar na casa dela, mas não conseguia bater a campainha; digitava verdadeiros textos de mensagem no celular, mas na hora de enviar eu desistia. Aquele bloqueio que tinha com ela (de meses agora) só continuava crescendo. Acabou que ela não foi mesmo, não deu feliz natal nem noticiais quaisquer, e eu fiquei desolado com isso. Principalmente na hora que minha tia disse “fiz pudim pra ela Thiago, quando ela chega?”.

Ela estava rodeada de melhores amigas, isso era muito bom para ela. Imagino que esse tipo de conversa, foi conversada mil vezes com elas, pensada e repensada, enquanto eu muitas vezes conversava com a tela do computador e as cordas do violão. Eu também tinha amigos, claro. Mas nenhum deles estava interessado na minha vida particular em pleno natal.

Foi nessa hora que eu fiquei magoado. Fora o natal, coisas importantes começaram a acontecer. As frases não ditas foram as que mais pesaram. Já não tinha recebido o “feliz natal”, e o “feliz ano novo” também não veio. Depois disso tive a resposta do exército, num dia 13 de janeiro chuvoso, a grande resposta, aquela que mudaria minha vida. Foi negativa. Tinha tudo arranjado, todos os planos feitos, eu até chegava a saber onde dormiria dentro do centro preparatório de oficiais da reserva. Mas no dia de saber minha designação, fui dispensado por excesso de contingente. Foi como bater a 130 km/h numa parede de tijolos, tendo acertado antes duas velhinhas e um animal em extinção.

Então janeiro, que começava desse jeito, começava a se aproveitar de mim. Depois da decepção do exército, eu não sabia que rumo tomar, e na maior parte do tempo ficava deprimido pensando em como alguns anos de planejamento foram por água abaixo em apenas um segundo, naquela manhã de 13 de janeiro. Passar por aquilo tudo sozinho foi a maior barra de todas. Sempre tive uma família presente, só que sempre fui um cara fechado. Sempre gostei de fazer as coisas por mim e ser muito perfeccionista, e ela era que me ouvia quando eu precisava.

Só que ela não estava mais aqui.

Mas o mais injusto de todos, mais que a situação, era eu. Eu sabia que no ano anterior eu tinha errado muito com ela. Sabia que em agosto, setembro, eu estava ausente de mais. Mas o que eu não sabia era o porquê de ter ficado tão ausente. Essa era minha sina. Sei que o maior culpado por estarmos até hoje tão distantes, sou eu. Não me orgulho disso.

No final de janeiro eu já via que não conseguia ficar mais nessa situação.

Então foi quando em fevereiro, eu fui até a casa dela. Disse um monte de coisas sem sentido, disse o quanto sentia falta dela, e o quanto ela era importante. Falei de como me sentia em tê-la deixado em segundo plano na minha vida. Grande parte da culpa de ter me afastado se deu a meu emprego, me dedicava muito a minha carreira e quase nada pro resto. Não soube me balancear, e disse isso também. Dei um passo muito grande em fevereiro. Isso não tirava minha culpa, apenas era meu jeito de tentar consertar tudo, por que ainda sentia falta dela, da amizade dela, e não era pouca.

Mas fevereiro é um mês ingrato. Muitas coisas mais aconteceram depois destas...

(CONTINUA)