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PORTINARI, Candido |
E colocando-se de pé, subiu no palanque e começou um discurso pra ninguém:
“Boa tarde meus fiéis, amigos ou não, habitantes do reino. Sinto-me feliz em dizer hoje que reino sobre vossas cabeças. O papel do rei é admitir e zelar pela vossa vida, dando-lhes condições para que desempenhem o vosso papel quanto cidadãos. Quanto súditos. E fico feliz por ater-me a essa meta. Digo-lhes hoje, fiéis, que desempenho esse papel com êxito. Aos que me escutam, sinto que cumpri com meu dever. O peso que vossa vida tem sobre minha cabeça real, é um fardo que consigo carregar com vigor. E fico feliz em ser rei de um reino tão promissor.
Em meu reino não tenho problemas com fome, vós sois fortes e saudáveis. Não tenho problemas com a felicidade de vós outros, pois não recebi reclamações quanto à vida que a vós foi designada. Não ouço o choro das crianças, o pesar dos adultos nem a reclamação das mulheres. Sinto-me realizado. Quando o povo se cala, o silêncio é a prova do consentimento. Quando o povo não protesta, prova que seu governo é eficaz. Quando o silêncio é a arma, a estagnação é a moeda de compra. Sinto-me feliz de reinar num lugar onde não há reclamação quanto a minha política e didática de soberania.
Sou rei, independente de meus súditos. Sangue real é sangue real independente das circunstâncias. Os únicos que podem me tirar do poder estão em silêncio agora. Por isso estou feliz. Pois sou o melhor rei que meu povo poderia pedir. Vir a vós hoje e discursar é simples. Faço-me discurso vivo. Enquanto vocês não me calam, posso discursar a vontade. Posso exercer meu papel sem problemas.
Tomem como exemplo outros reinos. Imaginem! Lugares onde há barulho, onde há protesto, onde há súditos que discordam de seus reis e rainhas. Reis desgraçados à sós sois! Quando se deitam em seus aposentos reais à noite, sentem o peso de seu pecado. Nem o sangue real consegue limpá-los. Pois dão ouvidos os seus povos, se preocupam com a ignorância dos desfavorecidos, e atendem as exigências dos mais velhos. Que tolos! Todos nós, nobres reais, sabemos que a sabedoria reside nos velhos. E dar uma chance pra que a sabedoria deles perdure é se jogar na cova! É dar-se de comer para leões famintos! Pois o povo na ignorância é feliz, mas o povo sábio é explosivo.
Mas não em meu reino. No meu reino não dou ouvidos, não atendo a exigências, são ladainhas alheias. Olhe como meu reino funciona! É a prova viva e que desempenho meu papel formidavelmente. Pois sou rei de um reino sozinho. Sou senhor de minhas próprias idéias, e a loucura a que me acometi fez-me ver com olhos infinitos. Vi o problema e o solucionei por raiz. E o problema é simples demais para que olhos sãos possam enxergar.
Pois o povo é o problema do rei. Enquanto calados, imóveis, satisfeitos... São ótimos súditos. Mas quando percebem que estão sendo explorados, roubados em silêncio, abusados e iludidos... Unem-se de uma forma explosiva, e o reino se desfaz. O poder que tenho sobre mim é imediatamente acometido e negado. Pois é na sabedoria popular que meu imperialismo é derrubado.
Quanto a minha loucura? Não sou louco. Muito pelo contrário... A vós que estão a ouvir, reflitam agora sobre seus conceitos. Seus governos. A vós, me direciono com palavras reais. Não reais de realeza, mas reais de verdadeiras. Observai seus governos, e principalmente, a atitude de vocês quanto súditos. Sim, súditos, por que os ocidentais vieram com a ladainha da “democracia” quando na verdade o termo não é nada além de uma conversa pra convencer servos de que não são servos.
Suas atitudes enquanto súditos. Sim, pois vós sois a voz que não quis se ausentar do silêncio. Sois a espada que jaz cega por sobre a mesa do samurai, em plena guerra. Sim, sois o sal que não tempera. Pois a vós foi concedido poder, poder para revoltar-se contra os opressores, contra os malfeitores. Contra políticos corruptos e falsas idéias democráticas. Foi concedido o poder de se voltarem contra a minha pessoa, mas continuo rei. E quando meus súditos se encontram insatisfeitos, o que fazem? Calam-se.
E a vós me refiro como a “ninguém”. Pois a voz que se cala é voz nenhuma. O povo que não protesta não passa de peso vivo. Onde a loucura reside agora? A mim que discurso a ninguém, ou a vós outros, parte de um todo maior que, quando somados, são iguais a zero?
A isso vos saúdo! A isso lhes agradeço, por tornarem-me rei tão feliz. Por serem igual a reino nenhum, a povo nenhum, e meu discurso vazio não passa de uma realidade a muito vivida por vocês. “Pois quando calados, me fazem feliz, e assim continuarão.”
E aplausos vieram de algum lugar. Ouviram-se gritos de fervor. Naquele dia os reis sorriram, e os súditos continuaram suas vidas vazias como um povo, como um nada.
Tomem como exemplo outros reinos. Imaginem! Lugares onde há barulho, onde há protesto, onde há súditos que discordam de seus reis e rainhas. Reis desgraçados à sós sois! Quando se deitam em seus aposentos reais à noite, sentem o peso de seu pecado. Nem o sangue real consegue limpá-los. Pois dão ouvidos os seus povos, se preocupam com a ignorância dos desfavorecidos, e atendem as exigências dos mais velhos. Que tolos! Todos nós, nobres reais, sabemos que a sabedoria reside nos velhos. E dar uma chance pra que a sabedoria deles perdure é se jogar na cova! É dar-se de comer para leões famintos! Pois o povo na ignorância é feliz, mas o povo sábio é explosivo.
Mas não em meu reino. No meu reino não dou ouvidos, não atendo a exigências, são ladainhas alheias. Olhe como meu reino funciona! É a prova viva e que desempenho meu papel formidavelmente. Pois sou rei de um reino sozinho. Sou senhor de minhas próprias idéias, e a loucura a que me acometi fez-me ver com olhos infinitos. Vi o problema e o solucionei por raiz. E o problema é simples demais para que olhos sãos possam enxergar.
Pois o povo é o problema do rei. Enquanto calados, imóveis, satisfeitos... São ótimos súditos. Mas quando percebem que estão sendo explorados, roubados em silêncio, abusados e iludidos... Unem-se de uma forma explosiva, e o reino se desfaz. O poder que tenho sobre mim é imediatamente acometido e negado. Pois é na sabedoria popular que meu imperialismo é derrubado.
Quanto a minha loucura? Não sou louco. Muito pelo contrário... A vós que estão a ouvir, reflitam agora sobre seus conceitos. Seus governos. A vós, me direciono com palavras reais. Não reais de realeza, mas reais de verdadeiras. Observai seus governos, e principalmente, a atitude de vocês quanto súditos. Sim, súditos, por que os ocidentais vieram com a ladainha da “democracia” quando na verdade o termo não é nada além de uma conversa pra convencer servos de que não são servos.
Suas atitudes enquanto súditos. Sim, pois vós sois a voz que não quis se ausentar do silêncio. Sois a espada que jaz cega por sobre a mesa do samurai, em plena guerra. Sim, sois o sal que não tempera. Pois a vós foi concedido poder, poder para revoltar-se contra os opressores, contra os malfeitores. Contra políticos corruptos e falsas idéias democráticas. Foi concedido o poder de se voltarem contra a minha pessoa, mas continuo rei. E quando meus súditos se encontram insatisfeitos, o que fazem? Calam-se.
E a vós me refiro como a “ninguém”. Pois a voz que se cala é voz nenhuma. O povo que não protesta não passa de peso vivo. Onde a loucura reside agora? A mim que discurso a ninguém, ou a vós outros, parte de um todo maior que, quando somados, são iguais a zero?
A isso vos saúdo! A isso lhes agradeço, por tornarem-me rei tão feliz. Por serem igual a reino nenhum, a povo nenhum, e meu discurso vazio não passa de uma realidade a muito vivida por vocês. “Pois quando calados, me fazem feliz, e assim continuarão.”
E aplausos vieram de algum lugar. Ouviram-se gritos de fervor. Naquele dia os reis sorriram, e os súditos continuaram suas vidas vazias como um povo, como um nada.
T. Rodrigues
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