terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Entre Braços e Asas.

Estava entre irmãos, era verdade, mas isso não diminuía um centímetro se quer da altura a que estava. Ele olhava pra baixo sem saber o que fazer, nunca tinha chegado tão longe. Primeiro seus irmãos, agora ele, e era algo que tinha que ser feito.

Pra quem assiste é fácil. É só se jogar, que o vento faz o resto. Obviamente não é tão fácil assim, e ele sabia disso, e isso o deixava completamente nervoso e amedrontado. Ele podia se negar a pular, poderia sim. Mas isso mostraria sua covardia e estamparia em seu rosto a derrota. E ele não era assim.

Se perguntava: "é a hora certa? digo, tudo tem seu tempo, certo?" E realmente tudo leva tempo pra evoluir. Suas asas eram pequenas, e seu corpo também. Estava a uma distância do chão cerca de 100 vezes maior do que seu tamanho, e morar no alto de um pinheiro não ajudava em nada em matéria de auto-estima. Voar era algo difícil de se aprender.

Dois passos pra beirada e ele olha lá em baixo. Aquela vertigem que dá dor de cabeça atacou ele por um momento ou dois, mas ele voltou a si. Era realmente alto. Seus irmãos pulavam, davam piruetas no ar, faziam espirais com seus rastros ao vento, e era magnífico de assistir "o primeiro vôo". Haveria algo mais bonito de se ver? É como um bebê engatinhando, dando seu primeiro passo, sua primeira palavra, dizendo "mamãe"... Era belo de se ver, com certeza. Mas realizar era difícil. Voar era uma arte inexplorada e fascinante.

Promessas eram feitas, ele olhava para trás. Todos ali, esperando o salto. E ele esperando a coragem para fazê-lo. E então ele a encontra. Chega na beira, não olha para baixo. Abre suas asas e respira fundo, e então se joga.

Por alguns momentos ele sentia apenas a queda, o vento cortar as linhas de seu corpo. Era tempo de adaptar suas asas a velocidade em que caia. Aquele desespero súbito vinha e invadia, mas ele estava aprendendo a respirar, aprendendo a "engatinhar". Quando suas asas estão totalmente abertas (e acredite meu amigo, era bem perto do chão), ele simplesmente arremete, e sobe novamente. O impulso deixado pela gravidade faz com que ele suba alto.

Um sorriso invade o rosto, ele canta alegre. A parte mais difícil tinha passado, e ele estava feliz. Saltar era o principal, e abrir as asas era necessário. Mas agora era hora de aprender a batê-las. Primeiro ele tenta fazer numa velocidade absurda, batendo depressa, isso faz com que o vento não passe pelas asas e ele começa a cair novamente. Vendo que sua estratégia não era eficaz, ele muda pra um "plano B", e bate devagar. Agora, ele dá pequenos saltos no ar, caindo e subindo, caindo e subindo, até achar a velocidade certa para bater, e assim aprender a estabilizar seu vôo.

Agora sim ele podia voar! Podia voltar a seu ninho, descer até o chão, dar piruetas e tudo mais que quisesse. Era a mágica do voar. Abrir e fechá-las em teoria é fácil. Mas nem por isso o passarinho deixa de cair ao tentar, e muito menos deixa de voar ao conseguir. Era perfeito de se assistir.

Explorar novos horizontes, ver o lago do alto do céu. Acompanhar o sol em sua jornada diária, seu nascer e se pôr, ver a lua invadir a terra e apaixonar-se com o mar a cada noite. Ondas paralelas e outros pássaros. Ver a multidão, e não escutar o barulho, estar acima de seus problemas. Era uma vida nova, vida linda, essa de passarinho.

Mas afinal, qual é a diferença entre braços e asas?