Da beira da praia ele se declarou, e Maria, que veio à superfície relutante, permanecia atônita. Por alguns momentos poderíamos dizer que a notícia tinha a surpreendido mais do que ele esperava, mas talvez isso não fosse verdade. Naquele dia, ela era uma, mas parecia falar por dois. Estava sozinha, mas parecia acompanhada.
A fascinação dele por ela não era tão complicada de se explicar (talvez não fosse preciso), mas ela parecia querer que fosse. Maria argumentava e dizia “para você é fácil falar, você não sabe como eu me sinto. Eu preciso me fazer feliz agora. Eu só preciso... de ninguém além de mim.”, e essas palavras soavam como seu ultimato. Ruy quase clamava, dizia a verdade, gritava a seus ouvidos, “você é mais do que pensa ser!”, e ela negava. Por mais que Ruy tentasse convencê-la do contrário, ela não cedia.
As negações continuaram por alguns momentos. As palavras dele pareciam não chegar aos ouvidos dela, ela parecia ouvir, mas não escutava. O discurso parecia se perder em algum lugar entre seus ouvidos e seu coração: o que ele se esforçava para dizer parecia não tocá-la.
Insistindo, o diálogo se estendeu por mais algum tempo, até que Ruy percebeu a triste verdade: ela estava imersa no oceano que foi sua última decepção. Tão fundo, tão ancorada, que parecia não poder subir à superfície sem que a pressão (a do ar, não a da vida) não a fizesse mal. Ruy só queria pular na água e tirá-la de lá. Mostrá-la a superfície. Na terra havia passarinhos cantando, o sol era amarelo e brilhava a luz do dia. No mar de sua antiga decepção, só havia o silêncio. Na terra, Maria encontraria paz, e a paz era uma realidade bem diferente da que ela se acostumara no fundo do mar.
Ruy, então, dos males o pior. Ele, com seu discurso pagão, ameaçara sua vida azul, azul marinho, quase preta de tão fundo. O que Maria parecia não entender era que Ruy tentava lhe salvar daquela vida a cem metros abaixo da superfície. Maria era uma sereia que não tinha decidido se queria viver na terra ou na água. Quem a via de longe, poderia dizer com clareza de ideias: ela queria viver na terra. Mas Maria se convenceu que sua felicidade estava no mar, e muitos desejavam tirá-la de lá, mas poucos pareciam querer isso ao ponto de se arriscarem a pular no mar para resgatá-la. Não posso dizer se Ruy foi o primeiro, mas a verdade é, que da última vez que topei com Ruy, o ouvi dizer “desse mar não volto sem ela!”, e pôs-se a nadar para o mar aberto.
T.Rodrigues