terça-feira, 29 de maio de 2012

Um Soneto de Cummings

Do amor é a função de fabricar desconhecimento
o conhecido não deseja, mas desejar é amor
embora se às avessas, o idêntico sufoca o uno
se confunda a verdade com o fato,
se gabem os peixes de pescar,
e por vermes, homens sejam apanhados
não se importa o amor
se troteia o tempo, declina a luz, vergam-se os limites
afortunados são os amantes, pois se submetem ao indescoberto
pois choram e riem, sonham, criam e matam
enquanto o todo se move, quieta permanece cada parte.

Se não for sempre assim e no futuro
de um novo amor o beijo experimentares,
se de minhas mãos fugires no escuro,
e outro coração aprisionares,
se no silêncio de um momento impuro,
teu cabelo em outra face roçares,
e essas histórias de prometo e juro,
com voz amiga a mais alguém contares,
se for assim, amor, se for assim,
dá-me um aviso, pois serei honesto
e a ele ofertarei num simples gesto
toda felicidade que há em mim.

E bem de longe ouvirei a cantiga,
De um pássaro triste, na terra perdida.

E.E. Cummings, traduzido e adaptado por T.Rodrigues

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