segunda-feira, 28 de maio de 2012

O dilema da Diana

Na minha mocidade, quando vivia lá pelas bandas de Belo Horizonte, ouvi um conto sobre um ser divino, - mas muito complicado - Diana, a deusa da caça. Vê se pode! Guerreira dos olhos cor de floresta, ser angelical dos cabelos loiros, parecia ser feita para seduzir, e era perita na arte da caça. Era tão boa que, sem muito esforço, pegava qualquer presa. Mas só caçava presa errada!

Deusa majestosa: corpo lindo de mulher e cabeça de moça! Não sabia o que queria a coitada. Quando descia a escada pro mundo dos mortais, dentre os homens via coelho e lebre: mas só ia caçar cobra e raposa! Bichos traiçoeiros. Valiam nada. E ela lá, divindade soberana, toda indecidida. Dava pra ver, só queria ser feliz, mas só escolhia mal. Muito mal. Muito mal mesmo, tadinha.

De caçada em caçada ela encontra o moço Felipe, rapaz do cabelo cor de terra, muito coração e pouca estratégia. Coitado. Logo esse garoto sem fé, foi topar de cara com a deusa da caça. Mas quem caça cobras e raposas por tempo demais acaba acostumando, e em cinco minutos Diana fez de Felipe caça - e como fez - o coitado ficou sem reação, e virou presa, claro.

O que ninguém imaginava era isso:  não é que o garoto gostou de virar presa? Olha só! Depois de encontrar Diana, as mortais perderam a graça: Felipe agora só queria saber do andar de cima. E olha que uma hora dessas a deusa da caça já estava lá, caçando uma cobra velha (ou uma raposa, afinal, era só presa errada).

Só que a deusa não esperava por essa, estava acostumada a deixar seus troféus guardados, nunca mais botava a mão neles. E quanto as cobras que perseguira em outros tempos, todas se foram. Afinal cobra não volta, nem pata tem, bicho traiçoeiro. A reação foi hilária, quando em terras divinas ela escuta a prece do rapaz: "Me caça outra vez, ó santidade!" Foi tão inesperado que a deusa ficou sem saber o que fazer e não respondeu a prece. Vê se pode. O primeiro coelho pedindo pra morrer em seus olhares santos (uma segunda vez) e ela lá, sem saber o que dizer. "Finge que nunca me caçou! Aproveita agora, que tem coelho pra caçar, antes que mais cobra apareça!"

Onde já se viu, lebre pedindo por ponta de faca! Agora a deusa não sabe se fica com coelho ou com cobra. Ou se pára de caçar, coitada. Dizem que até agora a deusa não deu resposta. E se de noite a gente vai pra beira da lagoa (da pampulha) a gente ainda escuta o rapaz pedindo baixinho:

 - Me caça outra vez, minha santidade!

T.Rodrigues

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