sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Depois dos Bastidores

"O palco de Annandale não é grande, e nem muito famoso, mas respeitado. Qualquer músico que esteja começando, queria tocar nesse lugar. As vezes imagino que até os músicos que estão a tempos na estrada deveriam tocar por lá. É tão pequeno, que a apresentação vira quase particular. É sensacional. E ninguém, absolutamente ninguém está livre do frio na barriga que dá antes de subir lá. Ou na maioria dos outros palcos.

Um homem, um violão, um repertório e várias mentiras a serem contadas. Isso define basicamente o que é um cantor antes do show. É algo que imagino ser brutal. Vender mentiras. Digo, obviamente, nem todas as músicas são mentiras, e algumas delas no momento não são, mas um dia se tornarão. Hoje você canta sobre amor, talvez amanhã sobre ódio, e uma coisa é fato: Seu ponto de vista de hoje não será o de amanhã. Ele vai mudar.

Colocar o violão nas mãos, é como uma segunda vida. É como se o soldado estivesse limpando a arma que vai usar na guerra, como se o piloto de carros entrasse na máquina da corrida, como se o garoto fosse dar seu primeiro beijo naquela garotinha. É um passo gigante, e precisa-se de coragem.

Todos em Annadale esperam por ele subir, e fazer um ótimo show. Cantar sobre amores, sobre vidas arruinadas, sobre felicidade única e sobre outros assuntos assim, é o que eles esperam. Pagaram para ouvir a mesma coisa que todos cantam: mentiras.

"Se todos cantam o mesmo, qual é a mentira que vocês querem ouvir?" Ele pensa assim. Mas suas músicas não são nada casuais. Ele não espera a aceitação do público. Ele espera ser ouvido: e isso meus caros, é algo com propósito. É lindo.

As músicas que falam de amizade verdadeira, e como acabam, de atitudes estúpidas que todos cometem, e como continuam cometendo, são os assuntos. Como somos estúpidos em não desejar a mudança de nossos atos, das músicas que escutamos, dos shows que pagamos pra ver. Das mentiras que compramos todos os dias. Esses eram os refrões que foram tocados nessa noite.

Quase ninguém comprou a idéia naquele dia em Annandale. Mas foi um ótimo show. Frases como "é por isso que ainda não desisti" ou "somos capazes de fazer muito mais do que as estatísticas no jornal dizem" ecoaram na cabeça de quem esteve lá. Isso fez a diferença.

Eles diziam que não dava pra mudar o mundo, que tentar mudá-lo só o faria ficar pior. Mas aquele artista, naquele show, fez diferente. Botou vários sorrisos em vários rostos, e eles cultivaram outros mais, e logo era uma epidemia de conteúdo em Annadale.

Eu estava lá, e mudei meu jeito de pensar. Sei que posso encontrar outras casas de shows, outros lugares em que posso escutar conteúdo, mas Annandale nunca sairá da minha mente, por que naquele dia, aprendi quais são as mentiras que não posso mais comercializar, e quais mensagens eu passo nas minhas canções.

É por isso que hoje toco aqui, em Annadale, e pretendo cantar cultura, mostrar conteúdo. Por que eu, posso ser único sendo um só. E é por isso que não desisti ainda.

A, e o artista que tocou aquela noite, seu nome é Newton Faulkner."

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