quarta-feira, 27 de abril de 2011

Rascunho, A Arte do Papel Vazio (parte 1)

Foi em uma terça-feira normal que me lembrei de como nós éramos sensacionais quando estávamos juntos.
Parei pra pensar nas coisas que fazíamos, nas conversas inacabáveis de telefone, nos encontros mais inesperados, nas mil maneiras que tínhamos de nos sentir felizes. Dezembro passou rápido de mais. Eu sentia a falta dela todo dia, e toda vez que pegava no celular, tinha que reler a última mensagem que ela mandou. Aquilo me fazia acreditar que toda nova vez em que lia, a mensagem se fazia recente, e eu tentava sentir naquela hora o que senti quando li da primeira vez, duas, três semanas antes desse momento. Eu estava errado, e estava certo.

Era ela que ouvia minhas músicas quando eu precisava cantá-las. Ela gostava quando eu usava um timbre mais grave, e foi ela quem me convenceu de investir mais na minha voz, e não só no violão. Claro que eu compus músicas pra ela. Nem todas elas foram escutadas, mas eu sei que se ela pudesse teria escutado. Eu amava parar as músicas na metade pra ela poder ficar curiosa de como seria o resto. Tinha vezes que eu não sabia mesmo cantar o resto, detalhe. Eu nunca fui bom com cantorias, ela por outro lado, sempre foi sensacional. Ela fazia músicas sobre estradas e sobre sapos. Ela cantava sobre qualquer coisa, e ainda sim ficava maravilhoso de se ouvir. Sempre foi rara de mais pra ser encontrada tão facilmente.

Uma vez a levei pra ver o por do sol na praça mais alta de Belo Horizonte. Estávamos entre amigos e foi tudo muito perfeito. Um frio cortante corria veloz sobre o chão, e toda vez que passava na nuca dela ela arrepiava, e me abraçava. O cachecol que ela usou nesse dia, ainda tem o cheiro dela. Voltamos da praça e fomos comer no Mcdonalds. Ela radiava o por do sol que assistimos no seu rosto, e no fim desse dia ela mais parecia um anjo do que uma mulher. Mas o dia teve que acabar, e cada um voltou pra sua casa. Cada um dos amigos deixou um pouquinho de si naquela praça, e alguns deles, como eu, ainda querem encontrar o que deixaram lá.

A forma de ela demonstrar como gostava de mim era algo novo, era uma ciência nova e eu estava definitivamente louco para estudá-la.

Eu e ela éramos diferentes, apesar das semelhanças. No fim das contas, eram as coincidências que nos ligavam. A gente sabia que disso, ou pelo menos acho que ela também sabia.

Mas o tempo foi passando e coisas novas começaram a acontecer. Meu trabalho ficava mais exaustivo ao passar dos dias, ela começava uma parte mais agitada nos estudos, e por fim estávamos parando devagar de freqüentar os mesmo lugares. Isso era terrível. Estávamos nos afastando devagar, um do outro. E os meses foram passando rápido. Nem me pediram licença, simplesmente me atropelaram e seguiram a estrada do calendário.

A última vez que a vi em dezembro foi um encontro rápido, no aniversário dela, e havia gente de mais para dizer que aquilo seria o mínimo pessoal possível. Não gostei daquele encontro, e o único efeito que ele produziu foi me deixar mais pra baixo do que já estava naquela data. Ver ela já não me fazia bem, muito pelo contrário; fazia-me sentir mal. Tentava achar o porquê de estarmos tão distantes um do outro, e mesmo não podendo afirmar nada por ela, eu, ainda a amava. Foi coisa de dez minutos. Um “oi” daqui, um “quanto tempo” de lá, de vez em quando um “que saudade de você” e ainda um básico “não consigo ficar longe mais, sua falta é muito pra mim”. Dezembro foi um mês solitário pra mim, e eu sei que o que fiz (ou deixei de fazer) não surtiu efeito.

O natal foi pior ainda. O combinado era convidar ela de um jeito mais formal. Ela e a mãe viriam para minha casa comemorar pela 2010ª vez o nascimento. Foi puro projeto. Eu ia ligar, não ligava. Ia passar na casa dela, mas não conseguia bater a campainha; digitava verdadeiros textos de mensagem no celular, mas na hora de enviar eu desistia. Aquele bloqueio que tinha com ela (de meses agora) só continuava crescendo. Acabou que ela não foi mesmo, não deu feliz natal nem noticiais quaisquer, e eu fiquei desolado com isso. Principalmente na hora que minha tia disse “fiz pudim pra ela Thiago, quando ela chega?”.

Ela estava rodeada de melhores amigas, isso era muito bom para ela. Imagino que esse tipo de conversa, foi conversada mil vezes com elas, pensada e repensada, enquanto eu muitas vezes conversava com a tela do computador e as cordas do violão. Eu também tinha amigos, claro. Mas nenhum deles estava interessado na minha vida particular em pleno natal.

Foi nessa hora que eu fiquei magoado. Fora o natal, coisas importantes começaram a acontecer. As frases não ditas foram as que mais pesaram. Já não tinha recebido o “feliz natal”, e o “feliz ano novo” também não veio. Depois disso tive a resposta do exército, num dia 13 de janeiro chuvoso, a grande resposta, aquela que mudaria minha vida. Foi negativa. Tinha tudo arranjado, todos os planos feitos, eu até chegava a saber onde dormiria dentro do centro preparatório de oficiais da reserva. Mas no dia de saber minha designação, fui dispensado por excesso de contingente. Foi como bater a 130 km/h numa parede de tijolos, tendo acertado antes duas velhinhas e um animal em extinção.

Então janeiro, que começava desse jeito, começava a se aproveitar de mim. Depois da decepção do exército, eu não sabia que rumo tomar, e na maior parte do tempo ficava deprimido pensando em como alguns anos de planejamento foram por água abaixo em apenas um segundo, naquela manhã de 13 de janeiro. Passar por aquilo tudo sozinho foi a maior barra de todas. Sempre tive uma família presente, só que sempre fui um cara fechado. Sempre gostei de fazer as coisas por mim e ser muito perfeccionista, e ela era que me ouvia quando eu precisava.

Só que ela não estava mais aqui.

Mas o mais injusto de todos, mais que a situação, era eu. Eu sabia que no ano anterior eu tinha errado muito com ela. Sabia que em agosto, setembro, eu estava ausente de mais. Mas o que eu não sabia era o porquê de ter ficado tão ausente. Essa era minha sina. Sei que o maior culpado por estarmos até hoje tão distantes, sou eu. Não me orgulho disso.

No final de janeiro eu já via que não conseguia ficar mais nessa situação.

Então foi quando em fevereiro, eu fui até a casa dela. Disse um monte de coisas sem sentido, disse o quanto sentia falta dela, e o quanto ela era importante. Falei de como me sentia em tê-la deixado em segundo plano na minha vida. Grande parte da culpa de ter me afastado se deu a meu emprego, me dedicava muito a minha carreira e quase nada pro resto. Não soube me balancear, e disse isso também. Dei um passo muito grande em fevereiro. Isso não tirava minha culpa, apenas era meu jeito de tentar consertar tudo, por que ainda sentia falta dela, da amizade dela, e não era pouca.

Mas fevereiro é um mês ingrato. Muitas coisas mais aconteceram depois destas...

(CONTINUA)

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