quarta-feira, 25 de abril de 2012

O garoto e a bicicleta



Era um menino de uns 11 anos, que andava de bicicleta na rua da sua casa e se divertia muito, quando em uma das curvas que ele fez na esquina, caiu num tombo feio. Sua mãe (que assistia de longe) foi lá socorrê-lo de imediato e viu o garoto com o braço sangrando, mas ele estava bem. Depois do susto, decidiu analisar melhor.

- Ai mãe! Tá doendo!
- Eu sei filho, mas vai passar. Deixa eu ver isso aqui. - respondeu vendo o braço do garoto, onde havia um corte pequeno e percebeu que tinha sido profundo - Nossa... Machucou feio! Acho que vamos ter que dar pontos nisso ai.
- A mãe, hospital não, por favor!
- Não tem jeito. Vou ter que te levar.
- Tá doendo muito... Nunca devia ter subido naquela bicicleta. Agora vou ter que ir pro hospital por causa dela! Não ando de bicicleta nunca mais!
- Não diga isso, não é por que você caiu que vai querer parar de andar de bicicleta.
- Vou sim - respondeu o garoto fazendo uma cara feia - a minha está toda quebrada agora!

A mãe deu um tempinho pra o garoto se recompor. Eles foram pra casa e ela levou consigo a bicicleta (ou o que restava dela). Algum tempo depois envolveu o lugar do corte com uma toalha limpa e se preparava pra colocar o garoto no carro e ir para o hospital. Quando ele se acalmou, a mãe decidiu continuar o assunto.

- E ai, melhor? - perguntou a mãe.
- Estou, só esse braço que está doendo. Maldita bici... - e foi interrompido por um tapa carinhoso, ele já sabia que era por causa do "maldita".
- Vou te comprar uma bicicleta nova amanhã. - respondeu a mãe.
- Mas eu não quero outra, eu queria a minha! E agora não vou ter mais, por que está toda quebrada. Acho que não volto a andar mais nesse negócio.
- Ora! Claro que vai! Ou você acha que por causa de um tombo e por ela ter quebrado, você nunca mais vai querer andar?
- Ela era especial pra mim! Gostava tanto dela. E o tombo vai deixar uma cicatriz aqui no braço - alisou o lugar e constatou que mesmo pequeno, realmente deixaria uma cicatriz - e se um dia eu quiser andar de novo, vou olhar pro meu braço e me lembrar desse tombo e provavelmente não vou querer andar mais.
- Mas não é assim que a vida funciona meu filho. A gente cai, de vez em quando ficam marcas, mas é assim que funciona! As cicatrizes fazem parte de quem você é, hoje você está chorando por ela, mas amanhã quando olhar pro seu braço vai rir e vai pensar no quanto você se divertia andando nela!
- É mãe, talvez você tenha razão. Mas quando eu lembrar o quanto me divertia, só vai dar mais vontade de andar nela de novo - concluiu triste.
- Mas você pode ter outra bicicleta depois dessa. Não é por que essa foi a mais divertida, que a próxima não será! E se você cair de novo e quebrar outra, não tem problema. Sempre existirá uma bicicleta nova esperando por você em algum lugar e quando você menos esperar vai perceber que pode se divertir de novo, pedalando.

Mais tarde, já em casa, o menino ficou pensando naquela conversa. Nesse dia, ele foi para o hospital e voltou com 3 pontos no braço. Quando foi dormir, nem lembrava da conversa que tivera com sua mãe. Para ele, aquela bicicleta quebrada (agora quase sem valor) representava muito mais que um brinquedo qualquer. Era a mais importante que ele já teve, mesmo durando pouco como durou. Olhando pro seu braço, enfaixado pelos pontos, chorou um pouquinho. Não pela dor, nem doía mais. Ele chorava por que não ia ter a bicicleta pra andar de novo e pensou seriamente em nunca mais andar em uma. Como eu disse, ele já tinha esquecido dos bons conselhos de sua mãe.

Quantas vezes não somos assim? Nossa bicicleta vale tanto pra gente, que se ela quebrar, talvez também pensemos em abandonar as duas rodas. O que é engraçado, por que o coração é um ciclista que cai frequentemente, quase sempre com tombos que deixam cicatrizes.

E agora olho pro meu braço, enfaixado.

T.Rodrigues


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