sexta-feira, 13 de abril de 2012

Entre o Simplício e o Orgulhoso

- Você acredita em segundas chances? - perguntou o simplício ao orgulhoso.
- Não existe esse tipo de coisa. Quando acaba, acaba.
- Mas e se a gente quiser, como que que faz?
- Não sei, esquece, ou desiste. Deixa pra lá. 
- Mas eu sinto que tem mais coisa por vir.
- Se você sente, sente errado. Afinal, não foi você que quis assim?
- Foi, mas a falta que me faz machuca.
O orgulhoso nem exitou em responder: - Mas se machuca, é por que você deixou de querer.
- Ora, mas que bobagem! Claro que quero, eu sinto falta!
- Se você quisesse de verdade não machucaria. Onde está o seu orgulho? Esquece da falta, esquece dela!
- Pra você parece fácil, parece possível. - o simplício respondeu com tristeza.

E para o simplício parecia impossível mesmo. A cada dia que se passava ele ouvia mais besteiras, e as pessoas diziam com sorrisos falsos: "calma, você vai se acostumar", "fica tranquilo, melhor remédio pra dor é esquecer!" ou a pior das falácias: "só se esquece de um amor com outro!". Mas pra ele não era assim. A vida pra ele se tornara um quarto escuro, de noite, quando a gente tenta dormir e não consegue. E a noite começa e se prolongar. E os pensamentos começam a vir. E os corredores na mente começam a se formar. Aquelas frases soltas na cabeça da gente, aquelas mil maneiras de pensar na mesma situação.

E as horas se arrastam:

"Eu poderia estar errado."

"Eu poderia estar pronto."

- Deixa esse orgulho de lado e vai atrás dela, vai fazer bem pra você. - implorou ao orgulhoso.
- Lá vem você com suas idéias erradas! Se recomponha primeiro, e depois a gente pensa nisso. - disse com  agressividade, pois o simplício estava em pedaços.
- Não me venha com essa de "se recomponha". O que vale é o agora. Corre atrás dela enquanto é tempo!
- Mas eu tenho medo. - pela primeira vez o orgulhoso confidenciou com sinceridade.

E o orgulhoso tinha medo mesmo. Não era apenas o fato de não acreditar em segundas chances, tinha mais coisa envolvida. Aliás, no fim, o que mais preocupava o orgulhoso era o "tem tanta coisa envolvida". Só que a pergunta que mais o assombrava, nada tinha a ver com segundas chances.

A pergunta era simples. O que vem depois do adeus?

- Você acha que ela está melhor sem mim? - disse o orgulhoso, deixando o orgulho de lado e perguntando baixinho.
- Claro que não! Quer dizer, não sei... Não sei o que ela queria. Ou o que quer.
- Eu mudaria por ela sabe. Deixaria o orgulho de lado pra ver ela sorrir mais uma vez. Mas queria que ela lutasse por mim, não me deixasse ir assim tão fácil. Talvez isso prove que ela não quer mais, não sei. Mas esperava ver o que tem de errado comigo, pra dizer que sempre foi assim. E depois consertar. É triste demais. - o orgulhoso concluiu, e a tristeza era tanta que o orgulho parecia ter ido embora.
- Talvez ela sinta sua falta. Não desista!
- Talvez desistir seja um dos maiores atos de coragem meu amigo.

E talvez seja. 

O que penso é que depois do adeus vem a saudade. E depois da saudade vem o arrependimento. Mas talvez ela não se arrependa. Talvez seja a hora de eu pular desse barco, e nadar com os peixes, me apaixonar por eles... E devorá-los no final. E quem sabe no fim eu aprenda que os peixes são mais bonitos de longe. Talvez não exista mais lugar pra mim na sua embarcação, mas peço que não navegues pra longe. Por que te perder de vista dói, e dói muito.

E no fim, se você reparar, vai perceber que o simplício é o meu coração, e o orgulhoso é minha mente.

T.Rodrigues

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