quarta-feira, 6 de março de 2013

Sereno

Deito-me no banco da universidade e assisto as nuvens passando, sem a menor preocupação com as pessoas ao meu redor, ou com meus afazeres acadêmicos. Um breve lapso de raciocínio invade minha mente. No momento as nuvens se cruzavam numa velocidade incrível, os pássaros seguiam seu trabalho e o sol se escondia atrás de uma camada espessa de chuva. O vento ficou frio de um jeito que você sabe: a chuva está para chegar. Quem sabe até uma tempestade. Logo após minha observação, a primeira gota - seguida por inúmeras outras - toca minha roupa, e a primeira sensação do molhado chega a minha compreensão. Eu aqui, à companhia do lápis, sem saber se continuo a deixar o papel se molhar ou se volto para um lugar seco. Algo dentro de mim grita para ficar na chuva, algo que está incomodado com o mundo. Incomodado com as pessoas e suas rotinas intermináveis, seus afazeres eternos e suas vidas tão ocupadas. Então me pergunto: afinal, quando foi que perdemos nossa sensibilidade? Quando foi que deixamos de observar a natureza e paramos de nos comover com o pôr do sol? Quando deixamos para trás o canto dos pássaros e a sensação de pisar descalço na grama? Um pensamento me leva a outro, quiçá pior que o precedente: quando é que aprenderemos que a vida é muito curta para não a observarmos passar despercebida ao nosso redor?

A pergunta se cala diante de mim. Percebo que a chuva passou e deixo essas questões para depois. Afinal, o caderno está seco, o lápis sobreviveu, foi um alarme falso. Está na hora de voltar à realidade cega.


T.Rodrigues

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